Virtude

Na busca incessante do significado da Virtude me deparei com livros e artigos de dois filósofos, Aristóteles e Santo Agostinho, que me deram boa base para o desenvolvimento deste trabalho.

A Virtude, segundo o dicionário, é “o que expressa boa conduta; em conformidade com o correto, aceitável ou esperado; segundo a religião, a moral, a ética etc.”

Segundo Santo Agostinho, “a definição mais acertada e curta de Virtude é a que diz que ela é ordem do amor” (Agostinho, 1961, p. 330).

A Virtude, segundo Aristóteles, é “uma disposição de caráter relacionada com a escolha de ações e paixões, e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, que é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta, a virtude encontra e escolhe o meio termo. E assim, no que toca à sua substância e à definição que lhe estabelece a essência, a virtude é uma mediania.”

A Virtude, segundo a maçonaria, “é a disposição da alma que nos induz à prática do bem.”

Mas, que relação podemos estabelecer entre os conceitos desses pensadores? O que realmente fazemos para nos aperfeiçoar intelectualmente através da prática da Virtude?

Aristóteles nos ensina que a Virtude se divide em moral e intelectual. A Virtude intelectual é gerada por natureza, nasce e cresce graças aos resultados do ensinamento e da educação, e a Virtude moral não é gerada em nós por natureza, é sim o resultado do hábito que nos torna capazes de praticar atos justos. Ele classifica a Virtude como o meio termo entre dois vícios, ou seja, a justa medida em que o excesso ou a deficiência culminam em vício de suas ações. Já Santo Agostinho, define a virtude como um hábito que faz o bem, ou, as ações do homem conforme a natureza que, voltadas ao bem, o conduz a um fim.

Tanto Santo Agostinho como Aristóteles entendem que a Virtude é gerada em nós por natureza, já está no interior do ser humano e se cria dentro do homem apenas o meio para o hábito de se praticá-la. Mas, para Santo Agostinho, a Virtude só pode existir no homem se este viver conforme o Amor (uma vida em Deus), através da graça concedida por Ele, e é esse Amor a maior virtude que o homem pode ter.

Nesses dois conceitos acredita-se que a finalidade da virtude é o “bem supremo”, que para Aristóteles é a felicidade da Humanidade e, para Santo Agostinho, é o Amor.

Acredito que eu possa ser um exemplo de como agir para se aperfeiçoar intelectualmente. Ainda profano, não sabia trabalhar a Pedra Bruta, por isso ao passar pela Câmara de Reflexão, observando os símbolos que ali estavam, fui levado a refletir e procurar respostas no meu “eu interior”. Nessa busca pelo aperfeiçoamento intelectual é necessário o aprimoramento de meus conhecimentos; na jornada para meu aprimoramento moral devo pautar meu comportamento pela prática da Virtude, e assim encontrar “a Pedra Filosofal”, no seu mais puro significado, dentro de mim. Para isso preciso trabalhar, e estar sempre na constante e incessante construção de templos à virtude, usando o maço e o cinzel para lapidar a Pedra Bruta, pois somente desbastando as asperezas da vida profana que deixei de lado quando renasci como Aprendiz, sendo justo e comedido, usando a medida justa da Régua de 24 polegadas para estar dividindo meu dia e praticando retamente minhas ações, na busca por uma vida virtuosa.

Mas, qual a Virtude que, no nosso dia a dia, no nosso convívio e relacionamento interpessoal, buscamos realmente e quais as Virtudes esperadas de um maçom?

No meu entendimento, não devemos praticar uma ou outra Virtude, mas sim todas possíveis a cada situação apresentada em nossa vida, para que tornemos o nosso meio um pouco melhor a cada dia, seja como maçom, como cidadão ou como pessoa comum. Nosso trabalho tem como objetivo melhorar o mundo, e a prática das Virtudes é o caminho para chegarmos lá.

Segue alguns exemplos de Virtudes que ao meu temos que praticar mais e mais:

A Justiça: Virtude que nos faz dar a cada um, o que lhe corresponde, que deve fazer-se de acordo com o direito e a razão. A Justiça é o apoio do mundo e a injustiça é a origem e manancial de todas as calamidades que o afligem.

A Prudência: Virtude que faz prevenir e evitar as faltas e perigos, a que nos faz atuar com sobriedade, discrição, moderação e previsão.

A Temperança: Virtude que modera os apetites e as paixões, e trabalhar com moderação, sobriedade e continência.

A Humildade: Virtude de assumir e reconhecer os erros próprios.

A Caridade: Virtude que atua como extrema sensibilidade aos sofrimentos alheiros. É o AMOR FRATERNAL, muitas fezes confundido com a filantropia.

Mesmo com pouco tempo em nossa Sublime Ordem, percebo que em muitos casos esses conceitos parecem não ser corretamente assimilados por todos, seja por desconhecimento de seus significados, ou por estar o irmão ainda em seu processo de lapidação.

Acredito eu que, após iniciados, nós maçons devemos buscar o crescimento intelectual e o aprimoramento moral, e isso exige tempo, estudo e dedicação, para que a cada dia nos tornemos melhores em todos os sentidos, e para que, um dia, nossas paixões e vícios sejam enterradas nas masmorras que nos propusemos a cavar.

O Maçom deve ser escolhido para ser Iniciado não por motivos profissionais, familiares ou de amizade, mas sim por ser o profano reconhecido Maçom em sua essência, encontrando nele as virtudes que tanto valorizamos.

“A Virtude é um hábito do bem, ao contrário do hábito para o mal ou o vício” Santo Tomás de Aquino

Davidson Dionizio de Oliveira

ARLS∴ Pioneiros de Ibirité, 273 – GLMMG
Oriente de Ibirité, Minas Gerais 

Publicado originalmente em: O Ponto dentro do Círculo