Tradição que não se rompe
De maneira absolutamente direta, simples e concisa podemos aferir que Tradição significa: comunicação oral de fatos, lendas, ritos, usos, costumes etc. de geração para geração.
Ou seja; trata-se daquilo que se torna norma por si só, pela sua própria essência e pelo significado histórico que nela se encerra.
A tradição não implica em que o seu exercício esteja escrito ou inscrito em qualquer lugar.
Tradição é a reprodução de tudo o que se vive de maneira contínua e habitual e que se consubstancia na media do tempo e nas mais variadas formas de expressão. Seja pela linguagem, seja pelos exemplos, seja pelo compartilhamento ou pelas próprias reflexões e vivências.
Ao olhar o sol por 30 segundos experimente descrever o campo à sua volta. Como se sabe, o brilho do sol ofusca os olhos e não se consegue ver nada a seu redor. Se se mantiver os olhos fixos no sol terminará cego. Em outras palavras, quando se busca apenas a Luz e se deixam as suas responsabilidades e atribuições aos outros, jamais se encontrará o que se busca. Isso se aplica ao Aprendiz e ao Companheiro Maçom.
Esse pequeno exemplo serve como esteio para um episódio recente que tive a oportunidade de presenciar em uma Loja regular do REAA quando o Venerável Mestre convidou aos Irmãos Aprendizes que haviam recém apresentado um trabalho para que conduzidos pelo Mestre de Cerimônias viessem ao Oriente para serem agraciados com uma pequena lembrança e que fossem aplaudidos pelos demais Irmãos presentes.
Confesso que isso foi algo que me deixou realmente espantado, pois em quase 20 anos de Ordem, tendo sido Venerável Mestre e atingido o Gr.´. 33 de nossa Sublime Ordem no Rito Escocês Antigo e Aceito eu jamais havia testemunhado esse tipo de coisa.... Irmãos Aprendizes no Oriente !
Posto isso, e inconformado com aquilo que presenciei busquei literaturas e para o meu conforto pude deparar-me com uma clássica e contundente lição de nosso Ir.´. Pedro Juk - que do alto de seu conhecimento, sobretudo ritualístico, com propriedade escreveu em nosso JB News :
"....Aprendizes no Oriente em Loja aberta é orientação completamente equivocada e geralmente dada por algum Irmão que infelizmente não conhece o mínimo do arcabouço doutrinário do Rito Escocês Antigo e Aceito. .
Essa “estória” de Aprendizes e Companheiros no Oriente é um atentado contra a ritualística do Rito e não encontra nenhuma justificativa, inclusive aquela que de modo capenga se apoia na falta de Irmãos para compor a Loja. Ora, cargos em Loja são privativos dos Mestres, além do que o Oriente é o final da escalada iniciática, cujo quadrante, ou espaço também é privativo dos Mestres. Qualquer “ilação” contrária à razão desse sistema maçônico francês (o Rito é filho espiritual da França) é mera conjectura e atestado de incompreensão do escocesismo simbólico. Se não houver número suficiente de Mestres não se abrem os trabalhos e ponto final.
Seria bom alertar para “certos” informantes que esse pormenor não precisa estar escrito, já que isso é tradição e costume imemorial, assim como universalmente aceito na doutrina do aperfeiçoamento comparada às Leis da Natureza cujo protagonista é o homem Maçom. Aprendiz ou Companheiro no Oriente seria o mesmo que alguém tivesse a capacidade de imaginar o Sol nascendo no Ocidente! Basta observar a passagem, ou marcha do Sol no Painel da Loja (as três janelas)...".
Ou seja, é notório que não precisa estar escrito para se saber o que pode ou não se pode fazer, especialmente dentro de uma instituição iniciática cujo alicerce se baseia em imemoriais exemplos de conduta e procedimentos.
O lugar do Aprendiz é justamente o Setentrião onde o Sol não lhe ofusca os olhos, pois ele acaba de nascer para o Mundo Maçônico e a Luz deve lhe ser dada, "paulatinamente", ou seja; de acordo com o seu desenvolvimento na arte de desbastar a Pedra Bruta e começar a erigir um Templo que lhe dê sustentação.
Uma Loja Maçônica é uma representação simbólica da psique humana.
No final do século XVIII e começo do XIX, muitos europeus, Maçons entre eles, encontraram seu caminho para o Oriente Médio, onde descobriram as relíquias de culturas que praticaram os Antigos Mistérios. E Maçons com seu modo peculiar de pensar, reconheceram similaridades entre sua Ordem e as Tradições Antigas.
Simbolismos como escadas encontradas no Templo de Mitra e motivos egípcios que sugerem a ideia de que a Maçonaria tem conexão direta com os ritos antigos. Apesar das conexões encontradas entre a Ordem e os Antigos Mistérios, não há explicação de como o material pode ter sido transmitido ou como a Tradição poderia permanecer oculta mesmo com os rigores da Idade Média e os rigores da Inquisição.
W.Kirk MacNulty , autor de : "A Journey through Ritual and Symbol" reporta em sua obra que as primeiras Lojas Maçônicas reuniam-se em tavernas e conduziam seus trabalhos durante o Jantar, sendo que principal forma de instrução era uma espécie de catecismo, que incorporava os elementos da Metafísica ocidental representada pelos Símbolos Maçônicos.
Por volta do de 1730 muitas lojas na Inglaterra, França, Escócia e Suécia conduziam rituais mais elaborados com Três Graus de forma geral, que perdura até os nossos dias. Tal prática tornou-se quase universal.
A Tradição encontra anteparo e sustentação naquilo que chamamos de Direito Consuetudinário, isto é; o direito que surge dos costumes de uma certa sociedade, não passando por um processo formal de leis. As leis, deveres e obrigações não precisam estar num papel ou serem sancionadas ou promulgadas. Os costumes transformam-se em Leis.
Assim é com a Ordem Maçônica, que guarda e garante grande parte de seu acervo cultural e filosófico calcado nas experiências acumuladas, na transmissão oral e, sobretudo nos usos e costumes que se sedimentam ao longo da História.
Para um bom entendedor, meia palavra basta.
Fraternalmente
Newton Agrella
Loja Luiz Gama Nº 0464 e Loja Estrela do Brasil Nº 3214
REAA - GOSP – GOB.
Fonte: JB News Nº 2.228