Ser ou não poeta
Em evento literário, um dos poetas, antes de dizer o seu poema, fez questão de falar com o público. E disse de sua incursão por uma escola, onde havia “ensinado” poesia aos estudantes.
Mais adiante, outro acadêmico, no seu discurso dizia entre outras coisas, que a “poesia e ensino se repetem, se excomungam”. Atentei para as duas afirmações contrárias, porque a segunda não foi proposital em oposição à primeira. O discurso do segundo poeta e acadêmico já estava escrito, quando o primeiro falou.
E o segundo tem razão. Poesia não se ensina. Poesia é um dom, é algo nato. Nós exteriorizamos ou não essa ânsia de transformar emoções, sensibilidade e lirismo em palavras.
Poesia é alma, é coração. É claro que escrever, escrever muito e escrever sempre – e a leitura fazem-no consolidar o estilo e melhorar o fazer poético.
Não devemos ter a pretensão de querer ensinar poesia. Até porque cada poeta tem a sua marca, a sua cosmovisão, o seu estilo. Podemos, sim, incentivar a produção, incutir o gosto pela leitura, fazer a poesia chegar a todos os olhos, ouvidos e corações, pois ela torna o ser humano mais humano. Se “ensinássemos” alguém a escrever poesia, estaríamos transferindo a nossa maneira de sentir e ver o mundo para outrem, estaríamos imprimindo nosso estilo na produção de outra pessoa, o que não é justo nem honesto.
Ser poeta é olhar e ver como já disse Cecília Meirelles.
Ou somos poetas ou não somos. A poesia flui, não precisamos arrancá-la.
Luiz Carlos Amorim – Escritor.
Fonte: Diário do Nordeste – Opinião: https://goo.gl/q8SCbG