REFLEXÕES AO PÁLIO

Dentro da simbologia maçônica, Mestre é aquele que não guarda para si, mas procura repassar a todos os seus conhecimentos, pois já superou as iniciações regulamentares e, de mente livre, conseguiu captar a sublime beleza da nossa simbologia, ora representada pelos 12 instrumentos guardados no interior das colunas, através da meditação, da harmonização e da intuição, passando a ser conhecido e chamado por Irmão Bom Senso.

Dá morada à amizade, ao desinteresse, à harmonia e à confiança, como também à fraternidade e ao respeito, em louvor à caridade na convivência com o amor e o bem, pois a paciência lhe confere sonhos maravilhosos com o futuro e o compele a conviver com a paz e a ventura, que dependem da providência, aliada ao ideal e esperança sem se olvidar da vigilância. 

Sendo Mestre, abrem-se lhe várias portas e dependerá dele não apenas se apresentar aos cargos que poderão ser-lhes deferidos, mas demonstrar o interesse e a disposição para os executar, pois somente assim, com o passar do tempo e das colheitas reconhecidamente positivas é que poderá continuar sonhando e galgando fronteiras maiores.

Entre estas fronteiras destaco, a princípio, o cargo de Mestre de Cerimônia, para início das reflexões. De cerimônia porque compete a ele não apenas a recepção e encaminhamento dos irmãos ou profanos, aos seus lugares, quando lhes forem conferidas estas faculdades, como também e principalmente, a preparação do cerimonial, aferindo a mais perfeita composição do Orbe Terrestre, com reflexos no Orbe Universal, propiciando assim o início das atividades, com a sagração do Templo.

É, pois, o Mestre de Cerimônia o introdutor afável dos obreiros e visitantes, e tem por instrumento, em virtude do respeito e imponência do seu cargo, “um cajado evocando a posição de um pastor e condutor de rebanhos”, e como joia uma Régua.

Deve-se manter sempre atento à execução das ordens do Venerável Mestre, para que a liturgia se processe eficientemente, sendo, portanto, um verdadeiro diplomata que dispõe de livre circulação para o pleno exercício de suas funções.

Exerce o Mestre de Cerimônia salutares influências na movimentação de todo o Orbe Maçônico, vez que representa ele o planeta Mercúrio, o Deus veloz e astuto; circulando pelo Templo, como elemento de ligação, imita ele o planeta que mais rapidamente circula em torno do Sol.

Corresponde a Hermes – “Mercúrio dos Romanos”, mensageiros dos deuses olímpicos, já que é o mensageiro dos dirigentes da Loja e, portanto, figura potencial do “Gênio” que demonstrará o mais perfeito e completo conhecimento do formalismo maçônico.

Coadjuvando o Mestre de Cerimônia, encontramos os Diáconos, elementos de ligação das Luzes, identificados como “Os Querubins”, anjos da primeira hierarquia.

Em suas funções, estão eles revestidos por uma Pomba com asas abertas, emitindo a ideia de comunicação como base para bons entendimentos, indicando elas a natureza litúrgica da função destes oficiais da Loja. Na antiguidade, os pombos eram usados como mensageiros para longas distâncias, dada a inexistência de outros meios de comunicação.

Representam assim estes querubins os estafetas das principais luzes da oficina, encarregados que são de manterem a ordem nas Colunas, conduzindo a palavra, as pranchas e qualquer assunto ou documento reservado e de interesse da Ordem.

Mestre de Cerimônia e Diáconos, com suas joias e ferramentas de trabalho – o bastão encimado pelas suas insígnias – demonstram o Cedro Patriarcal do gênio, com o perfeito e completo conhecimento do formalismo maçônico, somente adstrito aos mestres maçons.

“O tema merece comentários úteis a todos os maçons. Temos como primeira premissa o entendimento de que somente Mestres fazem do cortejo a formação do Pálio, devidamente revestidos de suas insígnias e munidos de suas ferramentas”.

Encontramos assim a segunda premissa, que nos leva ao entendimento de que somente revestidos de suas joias e munidos de suas ferramentas é que estes oficiais ficam investidos nesta posição patriarcal de “gênio”.

Vejamos, pois, um pouco sobre as joias e ferramentas para melhor entender a importância desta união de mestres, joias e ferramentas de trabalho na formação do Pálio.

A pomba, joia dos Diáconos, pode ser interpretada como uma das pombas enviadas por Noé; é o símbolo da conciliação com o Grande Arquiteto do Universo, mas também o símbolo da Paz, da simplicidade e da pureza que, encimando o bastão, conferem a qualidade de mensageiros. A joia do segundo Diácono é uma pomba em voo livre e a do primeiro uma pomba inscrita num triângulo com um ramo no bico.

A ferramenta de trabalho das “luzes menores”, os Diáconos e Oficial Mestre de Cerimônia, são comuns e ocupam lugar de destaque em todas as cerimônias ritualísticas através dos tempos, portada por reis e autoridades como símbolo e insígnia de poder.

Na formação do Pálio estão presentes dois anjos da primeira hierarquia, os Querubins e mensageiros. O segundo Diácono é aquela pomba que, não voltando à origem, sacrificou a própria vida para manter a harmonia da coluna de sua responsabilidade; o primeiro Diácono representa a pomba que voltou de seu voo com um ramo no bico, demonstrando domínio sobre um todo completo; água, fogo, ar e terra, domínio este que lhe advém do triângulo ao qual a pomba está circunscrita, mas, também, cooperando com a salvação daqueles que precisariam desembarcar em terra firme; unidos a estes querubins, ininterrupta e diuturnamente, encontra-se aquele que responde pelo infinito e pela moralidade, o Mestre de Cerimônia.

Pelas faculdades que lhe são peculiares, o Mestre de Cerimônia se dirige ao Oriente pelos degraus da Força, Trabalho, Ciência e Virtude, e de lá, como íntegro guardião, conduz aquele que mais do que nós, tem pleno domínio destas verdades, o Past-Master mais recente, que é, simbolicamente, o Sumo Sacerdote ou Abraão, o pai de todos os pais, para evocação do Grande Arquiteto do Universo, com a abertura do Livro da Lei, possibilitando a integração dos Orbes Terrestre e Celeste.

Postado o Past-Master à frente do Altar dos juramentos, simbolizando o Altar dos Holocaustos do Templo de Jerusalém, em que o Sumo Sacerdote adentrava apenas uma vez por ano, na época das abluções e oferendas aos deuses em busca de paz e perdão, forma-se sobre sua cabeça, pelo levantamento e cruzamento dos bastões em suas extremidades, uma pirâmide triangular.

O bastão do Mestre de Cerimônia é a viga-mestra; sobre ele e à sua esquerda, na coluna do norte, o bastão do primeiro Diácono; à sua direita, na coluna do sul, o do segundo Diácono. Temos assim total cobertura ao “Sumo Sacerdote”.
Simbolicamente, essa pirâmide triangular reporta-se ao Tabernáculo das Escrituras, que era de fato um Templo portátil que continha dentro um lugar mais sagrado e secreto do que os outros, denominado Santo dos Santos ou Santo Santorum. 

A princípio e os mesmos moldes do Tabernáculo, para a Maçonaria especulativa qualquer local poderia ser transformado em Loja Maçônica, bastando traçar no assoalho, dentro de um paralelogramo, com giz ou carvão os símbolos maçônicos. Mais tarde, serviram-se os irmãos de telas ou tapetes pintados, que eram estendidos no chão, precedendo ao início das reuniões, símbolos estes reproduzidos em nossos Templos, no painel da Loja.

Ao anunciar que a Loja está composta e aguarda ordens, o Mestre de Cerimônia relembra o Grande Arquiteto do Universo concluindo a obra do mundo, nele criando os seres aptos para a formação da Pirâmide Triangular e para abertura do Livro do Universo. Este é um ato litúrgico de suma relevância, realizado sob a égide do triângulo, que representa o deslocamento do Delta Luminoso para o Altar dos Juramentos e o Livro da Lei, representação do Olho da Providência.

Com a formação da Pirâmide Triangular e consequente abertura do Livro do Universo, aptos irão se encontrar os maçons para a elevação ao Triângulo Luminoso, por intermédio da Escada de Jacó, composta pelos seus três lances que simbolizam a Fé, Esperança e Caridade, complementados pelos degraus da Virtude, da Temperança, da Prudência e da Justiça.

Em síntese para a formação do Pálio necessário se faz o mais perfeito equilíbrio na harmonização e união dos conhecimentos do Mestre, unidos à agilidade do deus veloz e astuto e de seus querubins, objetivando serem reconhecidos como a figura patriarcal do “Gênio”, pois somente assim estarão aptos à formação da Pirâmide Triangular.

O Sumo Sacerdote, aquele que já passou pela cadeira do Rei Salomão, tem como joia um Esquadro sob o Compasso, num arco de círculo que possui ao centro o Sol e o Olho Onividente, ou mesmo um esquadro tendo suspenso em sua parte interna um emblema representando a 47ª Proposição de Euclides, significando que o ex-Venerável deve ser totalmente livre das paixões humanas para levar a luz aos seus irmãos através da sabedoria, com descortino e equilíbrio.

Formada a Pirâmide Triangular, o Sumo Sacerdote abre o Livro do Universo, recebendo assim a luz divina que dele emana, permanecendo sob as influências de um poder iluminativo, louvando o Grande Arquiteto do Universo com a leitura de uma passagem alusiva ao grau respectivo, reiterando todos os irmãos os seus juramentos pela saudação, como que pedindo perdão pelas possíveis faltas e erros cometidos, consagrando o Templo pela bateria que, agitando o ar, afasta tudo o que poderia ainda subsistir de profano.

Cria-se um novo ambiente para a devida aclamação da presença do Grande Arquiteto do Universo entre nós, “com a colocação do esquadro e do compasso o livro da lei – olho da Providência, formando-se então, com base na Pirâmide Triangular, a escada de Jacó que nos levará à Estrela de Sete Pontas, que é a representação daqueles que atingiram a perfeição humana, comandados pelo Venerável Mestre, a quem cabe derramar do seu Trono a paz e a concórdia, em benefício dos Irmãos e da Ordem Maçônica.

Erly de A. Castro

Fonte: https://focoartereal.blogspot.com/