Por que Trabalhamos ao Meio Dia?

Desde que o mundo é mundo, ou conforme dizemos nós maçons, “como tal se reconhece”, que o trabalho significa o modo como os seres vivos sobrevivem. Não existe qualquer tipo de vida que não necessite dele para tanto: seja caçando, plantando, curando, construindo moradias, educando, etc. etc. etc.

Neste viés o tempo de vida humana foi somado por anos e dividido por dias, ademais de cronometrado por horas, minutos e segundos: 8 horas para dormir, como mínimo, e o restante das 24 horas que descrevem uma jornada, ou seja, 16 horas, dedicadas ao trabalho e ao lazer. O mundo não para! A noite e o dia alternam- se em um fluxo constante de pessoas a realizar os mais diversos ofícios...uns com mais esforços que outros, é certo. Mas todos sob a luz do sol ou da lua!

Não indiferente a isto, a Maçonaria, buscando levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício, após a confirmação pelo 1 Vigilante que o Templo está coberto, começa ao meio dia o seu trabalho. É, neste horário, de maior claridade, que torna-se mais fácil perceber a cobertura do Templo, ou seja, encontrando-se este justo e perfeito. Horário este, também, em que o Sol causticante, estando em seu apogeu, queima impiedosamente os rostos dos obreiros, componentes do campo de obra, retirando destes à vaidade, tendo em vista que, sob o seu calor, todos suarão, sem distinção, a camisa.

E, pouco a pouco - com o corpo cansado, devido ao bater constante do malho no cinzel - os maçons vão lapidando a sua pedra bruta do seu “eu interior”. Denotando que, se assim agem, é porque mostra-se necessário o trabalho a fazer, já que, para a realização da obra, não medirão esforços, posto que por vontade deles... isto é: sem qualquer tipo de escravidão.

Em face a isto, é que durante a maior parte do tempo gasto, o escultor do seu destino, individualmente, vai subindo os degraus da Escada de Jacó. Portanto, sem usar da ajuda do irmão maçom para alcançar tal objetivo: o seu querer vem primeiro! O sol do meio dia não permite sombra! O que nos faz perceber que cada um deve construir o seu templo de virtudes por próprio labor.

Portanto é, ao meio dia, o momento de maior incidência da luz solar. Sendo simbolicamente narrado como o período onde recebe-se maior energia. Energia esta que nos dará força para trabalharmos no templo interior que estamos construindo, a medida que vamos desapegando das coisas materiais e evoluindo no aperfeiçoamento moral. Buscando, por finalidade, que possamos, não apenas sermos bons obreiros e irmãos dentro da Ordem, quanto sermos exemplos, no mundo exterior, para os profanos, tão merecedores da nossa tolerância, amor, verdade, paz e fraternidade.

Cabe, no entanto, não esquecermos que apenas poderemos repartir essas virtudes praticando-as diuturnamente. Afinal, quem pouco produz, igualmente tem a oferecer. Eis ai o trabalho!
Dentro deste oferecimento, o sol do meio dia transcende a compreensão humana, como forma de ressurreição, ou seja, de um novo começo a cada desbastar, tendo como fito instigar a que cada irmão maçom possa encontrar as suas próprias respostas para os seus grandes questionamentos.

A Maçonaria, apesar de não ser uma religião, posto que é um estado d’alma, nos guia a um modo gratificante de encarar a vida através de um Ser Maior ou um Princípio Criador, que os profanos chamam de Deus, quanto a nós... de Grande Arquiteto do Universo.
Como estamos tratando de uma Maçonaria especulativa, onde muitas interpretações, algumas até conflitantes, buscam explicar o significado dos símbolos que no Templo constam, de opiniões convergentes são as explicações que levam a Zoroastro, conhecido, também, como Zaratustra, à paternidade do lapso temporal que usamos aqui, ou seja, de 12 horas, para a realização dos nossos trabalhos.

Zaratustra, foi um sábio árabe nascido no século VII a.C. Era um questionador: “Quem criou o Sol e as Estrelas?” Por exemplo!
Em uma certa idade, contam que a ele apareceu uma divindade, que o levou ao encontro de sete seres místicos. E que lhe foi dito que, dentro da pessoa dele, estariam todas as respostas para as suas angustias... e que poderia encontra-las desde que quisesse. Que por ele ser alguém digno, deveria difundir essa boa nova... não como uma religião, mas, como filosofia!
Diante disto, tinha plena consciência, Zoroastro, que não seria fácil este labor, contudo “o que mais vale em um trabalho, é a dedicação do trabalhador. O que lavra a terra com dedicação, tem mais mérito religioso, do que poderia obter com mil orações, sem nada fazer.” Dizia ele…

E assim passou o nosso sábio, em reuniões que duravam Do Meio Dia À Meia Noite, em horas convencionais, a difundir a sua filosofia. Sendo, posteriormente, este horário de trabalho empregado em nossa Ordem.

Na Maçonaria este horário é simbólico para os três primeiros graus. Mas não tão menos relevante que as horas convencionais  propriamente ditas, pois nesse lapso temporal, simbólico, entende-se que, a maturidade espiritual para ser maçom, está, assim como o sol, em seu ápice, podendo este, o irmão, trabalhar com mais precisão e afinco.

Ao observar o Sol e a Lua, o maçom poderá concluir que existe tempo para agir e tempo para refletir; para trabalhar e para descansar; aprender e ensinar; ação e contemplação;
verso e reverso... que existe dia e noite! Que ao meio dia, assim como o astro rei, deve trabalhar arduamente, tendo em vista que está de posse de toda a sua energia. E, a medida que a escuridão aproxima-se, ir desfazendo-se dela (da energia), para poder assim repousar e repô-la.

Mas engana-se quem pensa que o Meio Dia é o começo de tudo! Da mesma forma quem pensa que a Meia Noite é o epílogo. Afinal, é através da madrugada fria que chega-se mais perto do raiar de um novo amanhecer, onde o ciclo recomeça. E, igualmente a um traçado, que pelo compasso é feito, este ciclo não possui começo, meio ou fim, posto que linha perfeita e infinita, composta por sua dureza inquebrantável de vencer as trevas e fomentar a luz.
Por isto que a Maçonaria, mais do que uma organização, é uma ideia que só pode ser assimilada pela contínua e interessada participação nos trabalhos, começando ao Meio Dia, com toda a pujança da vontade, e findando, com o silêncio reflexivo sobre tudo o que foi construído durante a claridade do sol, à Meia Noite.

Obs. Em minhas pesquisas, encontrei uma velha fábula que bem explica isso…

“Nos tempos da Maçonaria operativa, três obreiros lavravam uma pedra. Um caminhante indago-os:
• O que fazem vocês?
Trabalho para ganhar a vida – afirmou o primeiro.
Talho uma pedra – respondeu o segundo.
Construo um templo – extasiou-se o terceiro.”

Óbvio que apenas este último era maçom…

Na Maçonaria, tudo existe com um propósito maior, dentre eles está escolher homens de bem e fazer deles homens ainda melhores, desbastando a pedra bruta na construção de Templos sólidos.

Ivonaldo Porto – M∴M∴ - CIM 10075 GLMPE - Loja Mario Melo Nº 81 – Or∴ Recife/PE

Fonte: Revista Virtual "Cavaleiros da Virtude" - Nº 065 - Julho de 2024