POR QUE SOU MAÇOM?
Por que sou Maçom? Como sou Maçom? Para que é que isso serve? Como pode a Maçonaria contribuir para um mundo melhor, mais humanista, mais solidário, mais fraterno, mais equilibrado, enfim, será que pode? É óbvio que não vou dar resposta a essas inquietações, porque à medida que vou crescendo , são maiores as dúvidas do que as certezas, o que, provavelmente, tornará irrelevante para o futuro da humanidade esta minha intervenção. Gostaria, contudo, de partilhar convosco estas mesmas inquietações, se isso me for permitido.
Afirmar hoje que sou Maçom, pode sugerir várias significações e não menos enquadramentos. Nenhum deles será, contudo, suficientemente explícito para designar porque sou Maçom. Há uma certa tendência para se cair neste tipo de falta de clareza quando não se sabe bem o que dizer. No entanto, eu lancei o meu bote à deriva, e tenciono colher-lhe a trajetória. Volto ao início: Por que sou Maçom? A primeira resposta pertinente que me surge é: porque sim!
Mas isso não chega, não é suficiente.
Sou Maçom porque acredito, sigo, milito na Maçonaria. Sou Maçom, porque fui iniciado numa Loja Regular - Justa e Perfeita. Sou Maçom, porque os meus irmãos me reconhecem como tal... É isso: há um grupo de gente, que eu não escolhi - uns já lá estavam; outros chegaram depois - que me reconhecem no seu seio, me acompanham, me ajudam, contam comigo, conto com eles... Há um grupo de gente, que eu reconheço de modo diferenciado, e que me reconhece de modo diferenciado. De quê? De todo o resto que indiferenciadamente não me reconhece...
Existe um grupo de pessoas, espalhado pelo universo, capaz de me acolher, de me reconhecer, de me identificar, apenas porque sou Maçom. Num acervo infinito de gente, há gente que me reconhece. Há gente que me responde a um telefonema, porque me apresento na qualidade de Maçom. Há gente que eu nunca teria conhecido, mas que conheço, apenas porque sou Maçom. Haverá, eventualmente, gente que, se eu não fosse Maçom, nunca me teria conhecido ou reconhecido, na imensa massa de gente que, não sendo Maçom, também é gente.
No entanto, a Maçonaria não se esgota nisto, mas é também isto. Isto é, não é bem isto, mas é, sobretudo isto. Não vos venho falar de rituais, de ritos, de liturgias, mas, sobretudo, acima de toda e qualquer suspeita, daquilo que, para além do ato iniciático que me tornou Maçom; de todos os outros atos iniciáticos que permitiram progredir na via da Maçonaria; de tudo aquilo que, apesar de tudo, me obriga e abriga como Maçom; origina o fato de vos estar a dizer que sou Maçom. E se o sou, é porque me sinto como tal e, sobretudo, porque os meus Irmãos me reconhecem como tal.
O que é que eu espero de um mundo que me reconhece como Maçom? O que é que o mundo espera de mim, enquanto Maçom? Que tenho eu para dar, ou para receber, por esse fato? Um abrigo? Um qualquer espaço recôndito de reconhecimento mútuo? Medalhas, condecorações, não, seguramente! Um olhar imaculado, virginal, sobre o acidente a que se chama quotidiano? Volto à origem: sou Maçom, porque os meus Irmãos me reconhecem como tal. Reconheço os meus Irmãos porque há um segredo que nos liga. O segredo, pelo simples fato de o ser, não é desvelável nem é deslindável!
Sou Maçom porque sim, e disse!
Ou não disse, porque a segurança das minhas afirmações não acompanha a segurança dos meus atos. Ser Maçom significa, se calhar, aquele imaginário que eu persigo, mas não alcanço.
Ser Maçom é, porventura, tentar sê-lo... ou dizer-se que se é... ? Porque ser Maçom, hoje, quando se pode ser tantas outras coisas? Por quê ser aquilo que se deseja ser, mas que se receia não ser suficientemente? Mas, ser Maçom, é também, e, sobretudo, escolher, no mundo labiríntico que nos envolve, uma forma de traçar caminhos, eventualmente tão labirínticos como aqueles que traçam a necessidade de os percorrer...
Regresso ao tema inicial desta comunicação e pergunto-me; porque sou maçom? A resposta é inevitável: por todas essas razões e por outras, eventualmente inconfessáveis ou inexprimíveis, mas a razão primeira e, certamente a mais segura é PORQUE SIM!
* Luís Conceição
ARLS∴ "Convergência" nº 501 - G
Lisboa - Portugal