POR QUE AINDA ESTOU AQUI?
Refletindo sobre esta pergunta, é difícil encontrar uma só causa, a primeira é óbvia, fui convidado, aceitei mesmo sem saber exatamente o que era a Maçonaria, talvez o primeiro impulso tenha sido mesmo a curiosidade e o ímpeto de conhecer algo novo e cheio de mistérios.
Depois veio a iniciação, fiquei fascinado, uma aventura inesquecível. Trevas para reflexão! Luz nos despertando para um novo mundo! Um mundo de símbolos, alegorias e lendas.
Seguiram-se de sessões, instruções, palestras, trabalhos, onde os símbolos iam sendo desvendados e seus significados interiores se exteriorizando diante de nossos olhos assombrados e nossa alma extasiada.
Fui me conhecendo melhor, conhecendo meus Irmãos, foi maravilhoso! Minha família cresceu assustadoramente, fui revendo meus conceitos, por exemplo: Hoje percebo que meu conceito sobre Igualdade, já não é o mesmo daquele que eu tinha quando Aprendiz.
Lembro de que em uma de nossas sessões no ano de 1996 sob a venerabilidade do Irmão Juarez Oliveira Castro, eu nessa ocasião um aprendiz, recebi do Venerável antes do início dos trabalhos, um bilhetinho com a seguinte pergunta: O que eu entendia sobre IGUALDADE.
Não lembro muito bem o que respondi, mas com certeza foi alguma coisa relacionada com a forma com que eu interpretava a história da Revolução Francesa com seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Milhares morreram por este lema, uns lutando por ele, outros sendo decapitados por pertencerem a outra corrente política.
Dezenove anos já se passaram, a pedra não é mais a mesma, nesse intervalo de tempo, me aprimorei no manejo dos instrumentos e símbolos maçônicos.
Amadureci, estudei um pouco mais sobre a Revolução Francesa, ela foi longa e até a chegada da república, se passaram muitos anos, muitas guerras e levantes, milhares de mortos e uma infinidade de grandes personagens.
Um deles me chamou mais a atenção!
Victor Hugo, poeta, romancista, dramaturgo, político, grande humanista, na minha humilde opinião, um dos maiores homens que a França já produziu. Nasceu em 26 de fevereiro de 1802, já sob o imperialismo de Napoleão.
Ainda eram os primórdios da Revolução, e foi nesse caldeirão que ele foi forjado, em meio as lutas, guerras e guilhotinas, lá estava ele empunhando as únicas armas que possuía, lápis, máquina de escrever e sua voz no parlamento.
Na luta contra a guilhotina, escreveu um poema e nele bradou:
MORTE À MORTE! GUERRA À GUERRA! VIVA À VIDA! ÓDIO AO ÓDIO!
E sobre a IGUALDADE disse:
A IGUALDADE SÓ EXISTE NA MORTE!
Aqui em nosso Templo, sempre observo os meus Irmãos, não consigo encontrar nenhum igual ao outro, todos são pedras, pedras diferentes, mas que em nossa construção vão se desbastando e encaixando-se perfeitamente. Em um livro que li, encontrei uma citação sobre uma inscrição Persa traduzida que diz: Oh! Enquadra-te para ser utilizada; uma pedra adaptada ao muro não fica abandonada no caminho.
O que viemos fazer aqui? Com certeza nos enquadrar, aprendendo no manejo do maço e do cinzel.
Conhecendo os meus Irmãos, fui conhecendo a Alferes Tiradentes, um mosaico impressionante: doutores, professores, funcionários públicos, bancários, médicos e empresários, enfim; representantes de várias profissões e classes sociais.
Uma Loja vibrante, que pratica a retórica, é rebelde, as vezes desafia a própria harmonia, mas só para testá-la e verificar se ela realmente continua firme, desafiamos para melhorar, não apenas para confrontar.
Quando batizaram nossa Loja homenageando um dos Heróis de nossa Independência, parece que já profetizavam que seríamos assim.
Respeitamos as leis de nosso País, da Maçonaria, seguimos nossos Rituais, Landmarks, lutamos por tudo aquilo que acreditamos, sem medo de discordar, as vezes até erramos em nossas interpretações, porém, com humildade temos a sabedoria de voltar atrás.
Nossa Loja é conservadora, mas não fechada para o novo, aceita-o, mas antes o estuda a fundo, discute, contesta, reflete, para então tomar a decisão, muitas vezes vamos ao extremo, para encontrar o equilíbrio.
Bem! isso é parte do que me faz continuar aqui, nenhuma sexta feira é igual a outra, muitas vezes ficamos contrariados, revoltados com o que vemos ou ouvimos, mas entendi que faz parte do aprendizado, a pedra para se encaixar precisa ser talhada e muitas vezes isto dói.
Aqui mesmo neste Templo, três semanas atrás nos disseram que existem maçons canalhas, fato que me motivou a refletir e escrever esta peça.
Me desculpem, não concordo, pelo menos por este ângulo. Canalhas podem estar na Maçonaria, porém não são e nunca serão Maçons. Não aprenderam, e nunca aprenderão a usar o Maço e o Cinzel como verdadeiros maçons.
Para encerrar, vou citar um trecho de uma autobiografia que li do domador de cavalos americano Monty Roberts, em um determinado momento ele fala sobre uma professora que muito marcou sua vida, Irmã Agnes.
Dizia ela que professor algum jamais ensinará alguma coisa. Sua tarefa como professor era criar um ambiente onde os estudantes pudessem aprender.
Refletindo sobre o que ela disse; acredito que é isto que a Maçonaria nos proporciona.
Ela entrega ao iniciado o ambiente a as ferramentas necessárias para seu aprendizado e desenvolvimento.
E nós os iniciados temos o livre arbítrio, nós decidimos!
Ser uma pedra desbastada ou uma abandonada no caminho.
Arion Peixoto Gershenson
Obreiro da ARLS "Alferes Tiradentes" Nº 20 - Grande Loja de Santa Catarina
Florianópolis - SC