Paz, a palavra mágica!

 

Em cada época a sociedade possui sua própria justificativa para a guerra, com seu próprio ponto de vista a respeito e, acima de tudo, um modo particular de encará-la. Para os comunistas, a guerra real é a guerra política, travada diuturnamente sob o disfarce da paz” (“A Política de Luta”, de James D. Atkinson, 1968)

 

A última obra de Stalin, abordando a teoria marxista-leninista (“Problemas Econômicos do Socialismo na URSS”) foi escrita quase no fim de sua vida e destinava-se a ser publicada por ocasião do XIX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, realizado em 1952. Embora grande parte do jargão comunista que inunda o livro não tenha grande significado, a obra contém as linhas mestras para a estratégia psicopolítica soviética. Digna de observação é a parte que destaca as táticas para a exploração da “paz”:

 

“O objetivo do presente movimento pela paz” (Stalin referia-se aos “Partidários da Paz”, em Estocolmo) “é despertar as massas populares para a luta pela preservação da paz (...) e é muito provável que o atual movimento pela paz (...) resulte, se bem sucedido, na prevenção de uma guerra aberta, no seu adiamento, na preservação temporária de uma determinada paz, até a demissão de um governo beligerante e sua substituição por outro governo, disposto a preservar a paz por agora (...)”.

 

Assim, mesmo no auge de seu poder, rodeado de bajuladores e servos obedientes no Kremlin, Stalin mantinha flexibilidade suficiente para apreciar as vastas possibilidades que se apresentavam para a exploração, pelos soviéticos, da palavra mágica. Igualmente interessante era sua compreensão do fato de que o desenvolvimento das armas nucleares poderia muito bem ser explorado em nome da “paz”, a fim de criar uma neurose na mente de muitos no mundo não-comunista.

Em março de 1953, o sucessor imediato de Stalin, Malenkov, utilizou-se da principal oração funerária em honra de seu antecessor para anunciar a herança que havia deixado: “a luta pelapaz”.

 

Todavia, o período da chamada herança não durou muito. Já em 1955, Nikita Kruschev surgia como o porta-voz soviético mais autorizado. A partir da renúncia de Malenkov em 8 de fevereiro de 1955, a estrela de Kruschev se manteve em ascensão.

 

Kruschev demonstrou grande perícia no emprego do tema “paz” como uma técnica de guerra não tradicional. Com muito mais segurança do que Stalin, aprendeu a importância de atrair a atenção dos meios de massificação para itens de valor jornalístico, tais como conferências de cúpula, “para aliviar a tensão”.

 

Em 1962, no XXII Congresso do PCUS, a “paz” continuou a ser o tema dominante de Kruschev para explicar o contexto da “coexistência pacífica” e da “paz” dentro do esquema comunista, observando que ela - a “paz”- poderia ser utilizada como uma das principais técnicas da guerra não tradicional. Ou seja, uma forma de luta que poderia ser utilizada para induzir – através de um incessante impacto junto à opinião pública – as nações do mundo a atenderem a União Soviética. Isso porque “quanto maior for a força do campo socialista e quanto mais ativa a luta pela paz se torne nos países capitalistas, tanto mais difícil será para os imperialistas levarem a cabo seus planos agressivos”, conforme Relatório de Kruschev ao Comitê Central do PCUS.

 

Nesse Relatório, Kruschev mencionou explicitamente as espécies de táticas a serem executadas pelas frentes comunistas e outras organizações auxiliares: “as pressões das massas sobre parlamentos e governos têm um forte efeito. As ações dos partidários da paz assumem um importante significado, principalmente agora (...)”.

 

Nessa verdadeira operação de “luta pela paz” que Kruschev continuou a martelar, ele reproduzia fielmente o pensamento de Lênin, Stalin e dos teóricos comunistas em geral. Os comunistas acreditavam que seriam capazes, eventualmente – com seu assalto psicopolítico -, de enfraquecer o moral das nações não comunistas, principalmente os EUA, e assim amortecer e desviar o poder tecnológico, industrial e militar dessas nações.

 

Essa crença em uma ação psicopolítica como forma básica de luta foi indicada por uma interessante declaração de Kruschev: “Os povos devem procurar substituir os líderes que se opõem ao desarmamento e nomear aqueles que realmente entenderam (...) a política de paz (...) A chave geral para a paz está na ação resoluta das massas (...)”. (Discurso em Moscou em 16 de março de 1962 no XXII Congresso do PCUS).

 

Tudo isso nos leva ao entendimento de que a sutil expressão de “luta pela paz” não passou, e ainda nos dias de hoje, não passa de uma das inúmeras formas de luta utilizadas pelos comunistas para a implantação do socialismo em escala mundial.

Já estamos no século XXI e algumas pessoas, especialmente as mais jovens, dirão “Caramba! Eu não sabia!”.

 

 

Carlos Ilich Santos Azambuja é Historiador.

* Carlos Ilich Santos Azambuja.

É historiador.

Publicado originalmente em: www.alertatotal.net