O Profano e o Maçom.
Exerce a Maçonaria influência sobre os seus Membros, melhorando a sua atuação na Sociedade:
São os Maçons elementos moralmente capazes de, pelo exemplo, influírem beneficamente sobre os profanos no meio em que vivem?
Estas são as questões que pretendemos responder hoje, dentro dos limites intelectuais que nos proíbem remígios mais altos na seara ampla e fértil da filosofia maçônica.
Achamos que a nenhum homem, normalmente dotado de sensibilidade, pode ser estranha a influência da Maçonaria, quando tendo transposto os degraus iniciais, e admitido nesta Câmara, porque não é possível deixar-se ficar indiferente, depois de vislumbrar os três aspectos – simbólico, filosófico e moral – com que a nossa Sublime Instituição avulta através dos séculos para vencer as trevas em que jaz o espírito humano. Nenhum homem, dentro da precária perfectibilidade da espécie, pode jactar-se de ter ingressado na Maçonaria e permanecido tal qual havia sido até aquele evento.
Se existe esse homem, se existe quem dentro da Maçonaria, não encontrou meios de aperfeiçoar-se moral, mental e espiritualmente, certamente deve tratar-se de uma aberração incorrigível, incapaz de captar as irradiações da Sabedoria, de sentir o magnetismo da força e de compreender os benefícios da serena contemplação da Beleza.
O mundo está todo inteiro na Maçonaria, configurado nos símbolos imortais e o homem, quando se torna Maçom, adquire o roteiro certo por onde dirigir os passos a fim de atingir o domínio de si mesmo e integrar-se conscientemente no Universo. Por isso compreende que, no ciclo evolutivo em que se encontra não é senão pedra: Pedra Bruta que o Tempo, o Sofrimento e o Trabalho tornam Polida e Cúbica, através do refinamento espiritual da Civilização e da Ciência.
O Maçom sabe que deve corrigir-se, pois o anseio do Espírito é alcançar a perfeição.
- “Sede perfeitos como meu Pai é perfeito”, não é mera advertência, mas, como tudo que nos vem do Cristo Deus, uma diretriz que bem representa o objetivo da passagem do Homem pela Terra.
Contrariamente ao que parece aos moralistas e céticos, o Homem não caminha do nascimento para a morte, mas da ignorância para o conhecimento, sabido é que o Grande Arquiteto do Universo não cria apenas para destruir.
O Maçom não é subserviente; não é hipócrita; não é dúbio; não é saliente; não é prepotente; não é usurpador.
É isto sim, vertical nas atitudes para com o semelhante e horizontal na posição que ocupa na ganga social em que opera. É vertical como o seu esqueleto e horizontal como a superfície em que se apoia. Vertical como o Prumo e horizontal como o Nível – Homem e Terra formando o Esquadro, inflexível e correto.
O Maçom não é mesquinho nem misantropo. É generoso e magnânimo porque com o Compasso exprime a justa medida dos seus sentimentos, cujo esquema se obtém observando a abertura e fechamento das hastes.
Temos, assim, no Esquadro e no Compasso, a fórmula necessária à vitória moral no mundo profano. Fórmula de que só o Maçom é conhecedor cumpre-lhe aplicá-la em todas as circunstâncias da vida.
A estabilidade das realizações humanas no plano físico exige a aplicação dos instrumentos de correção que indicam o grau de inclinação sobre o ponto de apoio. Se a perpendicular não estiver dentro dos índices tradicionais a obra terá a sua durabilidade ameaçada.
Os princípios invioláveis que regem a técnica das construções não diferem daqueles em cuja bitola repousam as atividades do pano moral. Assim, o Prumo e o Nível, o Esquadro e o Compasso, não são úteis apenas quando se constroem casas e pontes, mas também quando é necessário decidir e aquilatar da conduta humana. Se, pelas qualidades morais, pelo caráter imarcescível, pela prática da Fraternidade, pelo estudo honesto e investigação insuspeita, pelo desprezo ao preconceito, pelo desapego aos bens perecíveis, podemos emoldurar a personalidade de alguém com a expressão daqueles símbolos, teremos o Maçom em potencial, bastando apenas iniciá-lo nos sagrados mistérios da nossa Ordem, Se, pelo contrário, existissem iniciados que devêssemos afastar do nosso convívio em face de corrupção de caráter ou intransigência de princípio egoísticos que teimassem em impor a seus irmãos, nunca os encontraríamos iluminados por aquelas Luzes, porque por mais que se esforçassem em demonstrá-lo, não seriam reconhecidos Maçons.
O Maçom é virtuoso, e não é corruptível nem corrompe; é altivo e não é humilhante; é confiante e correspondente; é honrado e não desonra.
O Maçom é positivo pela maneira como age e os reflexos de sua ação mais insignificante atingem a periferia longínqua do seu meio ambiente.
O Maçom não se distingue pelo que tem nem pelo que pode, nem pelo que sabe, mas pelo modo como vive entre os ditos profanos.
Diante do mosaico de raças, religiões, credos políticos e escolas filosóficas que formam a babel humana é o Maçom a personificação da compreensão universal, catalisador das divergências sociais que dividem e infelicitam os homens. Condena os abusos dos déspotas tanto como os desatinos dos que se rebelam. Anima aquele que confia e honesta e diligentemente investiga a verdade, mas desmascara o impostor, combate e persegue o charlatão como inimigos falazes da espécie. Sabe que não há neutralidade entre o Vício e a Virtude, mas não castiga aquele que erra sem antes estudar as circunstâncias que o levaram ao erro e não louva o que vive na Virtude, para não despertar a vaidade, que condena.
O Maçom abomina a falsidade porque sabe que “nada há oculto que não seja descoberto”, segundo o Livro Sagrado da Lei.
Haverá sempre um ramo de Acácia, a indicar o lugar dos despojos; sempre soprará leve como a brisa, persistente como as ondas, eloquente e inevitável como a eternidade, o som percuciente da voz interna que repete inconscientemente o “mea culpa”, denunciando o autor do delito.
A Palavra é a principal conquista do Espírito, que por seu intermédio, transmite às gerações nascentes o conhecimento adquirido ou conquistado; o Sentimento é a baliza que determina o aperfeiçoamento atingido e o Pensamento é a chama que resulta do choque entre a revelação da divindade e a ideia embrionária.
Sabe o Maçom que a Palavra é essencial ao progresso e nunca exercerá o seu poder para cerceá-la, se não for portadora de difamação e não atentar contra a moral: que o Sentimento deve ser desenvolvido e aprimorado, para que cesse a mútua incompreensão dos homens; que o Pensamento deve ser livremente difundido para que jorrem permanentemente sobre a humanidade as Luzes que lhe dão segurança e estabilidade. Entre os que fecham a boca do povo, matam o sentimento das massas e sufocam o pensamento que forceja por expandir-se, nunca estarão Maçons.
Os Maçons são livres e vivem na Verdade. Conheceu a Luz que, partindo do Grande Arquiteto do Universo, ilumina como Estrela Flamígera, o Espírito e a Matéria e faz projetar ao solo a sobra dos maus e dos bons, para que todos conheçam os vícios de uns e a virtude dos ouros.
Vícios e virtudes que se desprendem dos ossos e da carne do indivíduo físico, mas permanecem na composição do indivíduo moral dando-lhe o cunho que o classifica entre os congêneres.
É relevante a influência que a Maçonaria exerce sobre os seus Membros e a nenhum deles é lícito negá-la, porque a retransmitem beneficamente aos seus coevos.
Desde o início remoto das idades até o atual esplendor da Civilização, dentro dos escalões do progresso coletivo, coexistem os tarados e os santos, os estúpidos e os sábios, os gênios e os dementes, porém, desta amálgama amorfa sempre foi possível distinguir o Maçom do profano, porque o Maçom é aquele que vive em constante luta contra os seus próprios defeitos.
Autor
Irmão Carlos Faria
Fonte: JB News – Informativo nº 1.789.