O Pavimento de Mosaico

O Pavimento [1] ou Piso Mosaico – um dos três ornamentos do Templo [2] – é constituído por lajes quadradas, nas cores branco e preto, dispostas de forma alternada, formando uma espécie de tabuleiro de xadrez. É circundado pela Orla Denteada e, em conformidade com Rito Escocês Antigo e Aceito [3], reveste toda a extensão do Ocidente. Contudo, atualmente, em muitos Templos encontra-se limitado a um retângulo no centro do Templo.

Suas origens e utilização nos Templos Maçônicos são contraditórias. Há quem defenda a tese que sua adoção é proveniente das descrições bíblicas referentes ao Tabernáculo [4] e ao Templo de Salomão. Daí a denominação “Pavimento Mosaico”, derivação do nome “Moisés”. Segundo o livro Êxodo [5], Moisés, líder e salvador do povo hebreu, teria assentado pedras coloridas no chão do Tabernáculo, culminando na referida denominação [6]. Seguidamente, Salomão na construção do Templo teria se utilizado de conformação próxima, seguindo a tradição hebraica.

Segundo Rizzardo da Camino [7], as descrições bíblicas do Templo de Salomão referem ao Pavimento como sendo constituído de madeira ou pedra recoberto com ouro.

Contudo, sua disposição em lajes brancas e pretas, como demonstrado, não encontra sustentação histórica.

Para José Castellani[8], o Pavimento Mosaico dos Templos Maçônicos não possui origem naquelas descrições, ou seja, uma origem hebraica; mas, sim, sumeriana [9], sendo mais correto, chamá-lo de Pavimento Quadriculado. Não possuindo, desta forma, nenhuma relação entre o piso quadriculado, em branco e preto, que comumente encontramos nos atuais Templos Maçônicos com os pavimentos do Tabernáculo ou do Templo de Salomão.

Ainda segundo o referido autor, entre os símbolos religiosos sumerianos, encontrava-se um pavimento quadriculado composto de lajes brancas e negras, considerado sagrado, só podendo ser pisado em dias especiais. Sendo certo, que outros povos o adotaram não como item sagrado, mas apenas como motivo de decoração em seus Templos.

Por fim, o autor declara de forma incisiva, que a Maçonaria adotou em seus Templos o Pavimento Quadriculado sem a conotação de sagrado. Consubstancia sua tese no fato de sua utilização não ser obrigatória e, nem sequer, ser mencionada em alguns ritos escoceses do século XVIII.

Gostaríamos de deixar consignado, apenas de forma sucinta, que para alguns autores, o Pavimento Mosaico surgiu com a Maçonaria moderna, não possuindo referência naqueles descritos anteriormente.

Como podemos observar, as origens e utilização do Pavimento Mosaico nos Tempos Maçônicos é um assunto controvertido e que está longe de se pacificar. Acreditamos que independentemente dos fatos reais que levam à sua adoção nos Templos Maçônicos, o que realmente importa é sua simbologia, ou seja, sua interação com o desenvolvimento de nosso aprendizado.

No que toca sua simbologia e dialética encontramos as mais variadas interpretações. Segundo Ragon [10]: “O Piso Mosaico emblema da variedade do solo terrestre, formado de pedras brancas e pretas unidas por um mesmo cimento, simboliza a união de todos os Maçons do globo, apesar da diferença das cores, dos climas e das opiniões políticas e religiosas; elas são uma imagem do bem e do mal de que o chão da vida está semeado”.

Para Plantageneta [11]: “O Piso Mosaico tem grande significado, segundo velhos rituais, a união íntima que deve reinar entre os Franco-Maçons ligados entre si pela verdade. Essa verdade, todavia, não se nos mostra aqui uniforme, pois é simbolizada por uma alternância regular do branco e do preto. Pode-se portanto dizer que o Piso Mosaico continua, no Templo, o Binário das duas Colunas, e deve-se deduzir daí que o maçom, como o profano, está sujeito aos rigores da lei dos contrastes, confirmação não-equivoca da relatividade das verdades que podem ser reveladas ao neófito na Loja de Aprendiz”.

Em termos amplos, pode-se perceber um consenso entre os autores quando referem ao Pavimento Mosaico uma interpretação ligada à ideia de antinomia.

Desta forma, simboliza todas as dualidades inerentes à própria existência, tais como: bem e mal; luz e trevas; direito e esquerdo; positivo e negativo; masculino e feminino; corpo e espírito; entre tantas outras significações. Nesse ponto, se torna muito significativa sua simbologia se pensarmos que a própria existência do universo dependeu da organização de uma antinomia – matéria e antimatéria.  A diversidade e sua devida organização é requisito da própria existência.

O Pavimento Mosaico reflete a Maçonaria em sua grandeza. Grandeza esta, que possui a capacidade de atrair e acolher Irmãos dos mais variados povos e nações, credos e opiniões, desde que sejam livres e de bons costumes e que tenham por objetivo a construção de um mundo justo e livre de todas as formas de discriminação.

Outra interessante simbologia é apresentada por Jules Boucher. Para o autor, no Pavimento. Mosaico trevas e luzes estão ligadas, tecidas juntas, se considerarmos as fileiras de lajes; contudo, os traços virtuais que as separam formam um caminho retilíneo, tendo o branco e o negro ora à direita, ora à esquerda. Essas linhas são o caminho do Iniciado, que não deve rejeitar a moral comum, mas elevar-se acima dela. O Iniciado, diferente do profano que percorre a linha larga, deve percorrer a linha esotérica, a via estreita, mais fina que um fio de navalha, passando entre branco e negro, que não constituem obstáculos para a sua caminhada.

O Pavimento Mosaico possui uma simbologia muito rica que dá margem a infinitas abordagens. Deve ser fonte de inspiração para todos os Irmãos . E nossa modesta opinião, o Pavimento Mosaico possui uma mensagem central: tolerância.  Atributo que se bem desenvolvido e empregado serve de instrumento para a solução das mais diversas divergências e contrastes, possibilitando aos homens uma convivência pacifica e harmoniosa.

Marcos Eduardo Lelis 
A∴R∴L∴S∴  "Solidariedade" Nº 3.487
GOSP
Bibliografia
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica, Editora Pensamento, São Paulo, 2006.
CAMINO, Rizzardo. O Maçom e a Instituição – A Arte Real, suas Alegorias e Símbolos, Madras Editora, São Paulo, 2005.
CASTELLANI, José. O Rito Escocês Antigo e Aceito – Historia, Doutrina e Prática, 3ª Edição, Londrina – PR, 2006.
DESCONHECIDO. O Pavimento Mosaico do Templo in https://paginas.terra.com.br/informatica/lanciano/trabalhos/trabalhos/Piso%20Mosaico.doc.
FERREIRA, Antonio Marcus de Melo. Prancha “Instrução de Aprendiz1”, https://www.maconaria.net
VALLE, Amauri. Trabalho Segunda Instrução – A.˙.M.˙., https://www.lojasmaçonicas.com.br
Ritual - Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º Grau – Aprendiz – GOB – 2001.

Notas:
[1] Esclarecemos que por se tratar de um trabalho Maçônico e não acadêmico, não adotamos as normas da ABNT.
[2] São 3 (três), os Ornamentos do Templo a saber: O Pav.˙. Mosaico, a Orla Denteada e a Cord.˙. de 81 nós. Ritual – Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º Grau – Aprendiz, Elaborado, Aprovado e Adotado Pelo GOB – 2001, p. 160.
[3] Segundo Planta do Templo impressa no Ritual – Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º Grau – Aprendiz, Elaborado, Aprovado e Adotado Pelo GOB – 2001, p. XII.
[4] A palavra tabernáculo (do hebraico mishkan, משכן, local da [Divina] morada) designa o santuário portátil onde durante o Êxodo até os tempos do Rei Davi os israelitas guardavam e transportavam a arca da Aliança, a menorá e demais objetos sagrados. Era composto de três partes: Átrio Exterior, Santo Lugar e Santo dos Santos.
[5] Bíblia Sagrada – Nova Edição Papal – Traduzida das Línguas Originais com uso Crítico de Todas as Fontes Antigas pelos Missionários Capuchinhos de Lisboa.
[6] Aqui, no sentido adjetivo, ou seja, de Moises. Não confundir com a palavra mosaico que derivou do latim musivum,cuja etimologia seria do grego mouséion (templo das musas e das artes. Julles Boucher, A Simbólica Maçônica, p. 201, nota 41.
[7] Rizzardo da Camino, O Maçom e a Instituição – A arte Real, suas Alegorias e Símbolos, pp. 181-187.
[8] José Castellani, O Rito Escocês Antigo e Aceito – Hitória, Doutrina e Prática, pp. 205-208.
[9] Os sumérios foram a primeira civilização a se estabelecer na Baixa Mesopotâmia, por volta do século VII a.C., através da cidade de Susa, à leste do vale, e desenvolveram uma civilização grandiosa em feitos e descobertas que serviram de base para outros povos da Antigüidade, tais como, o desenvolvimento da escrita cuneiforme e o desenvolvimento da cidade-estado.
[10] J. M. Ragon, Rituel de l’Apprenti Maçom, pp. 66-67 apud Julles Boucher, A Simbólica Maçônica, p. 166.
[11] Edouard E. Platageneta, Causeries em Loge d’Apprenti, p.128 apud Julles Boucher, A Simbólica Maçônica, p. 166.