O Eterno Aprendiz
A representação artística do "eterno aprendiz", mostra o maçom criado perfeito pelo Grande Arquiteto do Universo, mas que, respondendo de forma desfavorável com seu livre-arbítrio, impossibilita a si mesmo obter o conhecimento da Verdade. Nega-se o direito do "Sapere aude! ", "Ouse saber! Tenha a coragem de te servires do teu (1) próprio entendimento!", (Quintus Horatius Flaccus ).
De sua própria (2) iniciativa ele depende de outros para pensar, escolhe viver voluntariamente dependente daquilo que os outros pensam. Não conquistou a sua autonomia , independência e liberdade, a razão (3) principal de ele frequentar os trabalhos de sua loja.
Na estátua o artista representa braços e pernas da figura do maçom imobilizados, somado à postura contemplativa aguarda que alguém coloque o alimento do filosofar maçônico na sua boca, pois ainda não desenvolveu a capacidade do livre-pensar, apenas copia o que outros criam. O "eterno aprendiz" nega a si mesmo a evoluída capacidade de pensar; ele quer obter a receita do bolo pronta!.
Entretanto, isso é demérito ou fraqueza? Profissionais das áreas do ensino e da psicologia dizem que não! A falta de coragem de assumir a própria autonomia na capacidade de pensar livremente é postura normal à pelo menos 9 entre 10 pessoas no mundo.
Tal disposição foi imposta e condicionada por pais, professores, ideologias e crenças ao longo da sua vida. É isso que a filosofia maçônica tenta reverter em todos os graus. A conquista individual da autonomia é o cerne de todos os ritos maçônicos regulares.
David E. Pritchard , professor norte-americano, do Massachusetts (4) Institute of Technology, a melhor escola tecnológica do mundo, diz que, dos estudantes de Física daquela escola, 80% não pensam, só repetem. Todos sabem que para entrar naquela escola de tecnologia é necessário destacar-se em conhecimentos, e se entre esses, apenas 10 a 20% pensam, imagine o cidadão comum! Isso demonstra a falta de livres-pensadores ativos na sociedade que trabalhem no sentido de tornarem feliz a humanidade. O maçom é incentivado, desde a sua cerimônia de iniciação, a ter coragem para exercitar a sua autonomia na arte de pensar: a Arte Real.
É nas oficinas maçônicas que acontece o Eterno Aprendizado, resultado do esforço próprio e da ação conjunta dos maçons reunidos que, inspirados na cerimônia de iniciação e depois de passarem pelo noviciado, andam com as próprias pernas, de acordo com a sua própria capacidade de pensar e decidir: são autônomos. Deixam de ser robôs, autômatos que se guiam por software criado por outros. Para as autoridades dos governos é mais fácil conduzir uma pessoa que não pensa, então usam do analfabetismo funcional para dominar a massa.
A liberdade dada pelo Grande Arquiteto do Universo, através do livre-arbítrio, fica impossibilitada de se manifestar se não existir uma disposição interna de modificar-se, edificar o próprio templo interno. O maçom destrói e reconstrói esse templo interno a todo momento, dependendo das novas ideias que aportam em sua mente.
O mais evoluído em termos maçônicos reúne-se com frequência para usufruir do Eterno Aprendizado que o filosofar maçônico oferece, e deixa de ser "eterno aprendiz". Tem irmão arguto que já entende isso na cerimônia de iniciação, ocasião em que absorve o significado daquele momento em que recebe a Luz e sai caminhando sem apoio de ninguém.
Outros acordam nos graus seguintes, despertados pelo constante filosofar, especular e criticar o condicionamento imposto pelo nefasto sistema humano de coisas.
A definição de que "a Maçonaria é, antes de tudo, uma instituição filosófica ", é utilizada por homens inteligentes que apreciam filosofar: (5) serem amigos da Sabedoria. O filosofar maçônico provoca aos adeptos que se libertem do condicionamento imposto pelo "sistema desumano" que explora a todos até que sobre apenas bagaço. Possibilita que, por esforço e persistência tornem-se livres-pensadores, diferenciando-se dos 90% da humanidade que só copia e repete o que os outros pensam.
Conquistam sua autonomia, assim como define o livre-arbítrio constante no projeto do Grande Arquiteto do Universo.
O Rito Escocês Antigo e Aceito proporciona trinta graus adicionais aos três graus do simbolismo. Todos os graus são filosóficos, inclusive os graus simbólicos, e objetivam provocar o maçom, a cada passo, com pensamentos diferentes.
Na primeira série de graus, a da Excelsa Loja de Perfeição, acaba o detalhamento da lenda do terceiro grau e o irmão certamente já entendeu, naquele estágio de sua evolução de pensador maçônico, que dele se espera o desempenho do Mestre evoluído e pronto para dirigir a sua loja simbólica. Àquela altura do Rito Escocês Antigo e Aceito ele já não é mais um "eterno aprendiz", mas um Mestre ciente da necessidade do seu "eterno aprendizado" para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.
Charles Evaldo Boller,
A∴R∴L∴S∴ "Apóstolo da Caridade" Nº 21;
Referências do Texto
(1) - Lema do Iluminismo. É uma expressão latina que significa 'coragem para discernir'. Originalmente usado por Horácio, é um mote comum para as universidades e outras instituições, após tornar-se intimamente associada com o Iluminismo por Immanuel Kant em seu ensaio seminal, que é o Iluminismo?
Kant alegou que foi o mote para todo o período, e é usado para explorar suas teorias da razão na esfera pública. Mais tarde, Michel Foucault assumiu a formulação de Kant, na tentativa de um lugar para o indivíduo em sua filosofia pós-estruturalista e chegar a um acordo com o legado problemático do Iluminismo;
(2) - Horácio, poeta e satirista de nacionalidade romana. Quintus Horatius Flaccus, Quintus Horatio Faccus nasceu em 8 de dezembro de 65 a. C. Faleceu em 27 de novembro de 8 a. C. Autor de obras mestras da idade do ouro da literatura latina;
(3) - Autonomia, "aquele que estabelece suas próprias leis". É conceito encontrado na moral, na política, na filosofia e na bioética. É a capacidade de um indivíduo racional (não necessariamente um organismo vivo) de tomar uma decisão não forçada baseada nas informações disponíveis. Na filosofia ligada à moral e à política, a autonomia é usada como base para se determinar a responsabilidade moral da ação de alguém, (Kant);
(4) - David Pritchard ou David Edward Pritchard, cientista e professor de nacionalidade norte americana. Também conhecido por David E. Pritchard.
Nasceu em Nova Iorque em 15 de outubro de 1941. Professor de física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT, realizou experimentos pioneiros sobre a interação dos átomos com a luz, pesquisas que levaram à criação do campo da óptica atômica.
(5) - Primeira frase no preâmbulo dos Estatutos da Grande Loja Maçônica do Estado do Paraná.
Bibliografia
- ASLAN, Nicola, Estudos Maçônicos Sobre Simbolismo, ISBN 85-7252-014-7, 1a edição, Editora Maçônica a Trolha Limitada, 176 páginas, Londrina, 1997;
ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, 1a edição, Martin Claret Editores Limitada, 140 páginas, São Paulo, 2007.
Fonte: Revista Cultural Virtual “Cavaleiros de Virtude” - Ano XI - Nº 062 - Abril/2024