O blazer vermelho
Meu amigo comprou um blazer vermelho. Desses trespassados, com seis botões dourados, tipo casaca de imortal. Chegou em casa e, cheio de vaidade, o vestiu para mostrar-se à esposa. Ela, quando o viu naquele traje, abriu o maior falatório:
- Isso é coisa de adolescente frustrado ou de velho sem noção, de quem quer aparecer. Além de ser feio e fora de moda você não tem mais idade para esses exageros.
Meu amigo ficou muito frustrado. Casados havia 30 anos, filhos já criados, situação financeira estável e uma enorme dificuldade de conversar, a vida a dois parecia insustentável. Diante das circunstâncias, o blazer foi parar no fundo do armário e o casamento, também. Não durou muito mais.
O reinício
A vida foi cicatrizando e os afetos voltando ao normal. Meu amigo se descobriu em processo de aprendizagem de si mesmo. Nada é mais eficaz para a maturidade como a necessidade objetiva de mudanças, provocada pelas contingências da vida. Ele perdeu peso e diminuiu a barriga. Coleterol, triglicerídios e pressão arterial baixaram. A academia foi incluída entre seus espaços frequentados, além de clubes, massagem, nutricionistas, encontros com amigos, no lugar somente de reuniões, despachos com a equipe e visita aos clientes.
Mudanças à vista
Reformou o guarda-roupas, optando por modelos mais casuais. Deixou de ser escravo do urgente e passou a cuidar do importante. Aprendeu que não é a quantidade do tempo que fica na empresa que gera resultados, mas a efetividade com que coordena as ações de sua equipe e a qualidade dos relacionamentos. Até a secretária de tantos anos percebeu a transformação. Ainda não se sabe se as mudanças na qualidade de vida do meu amigo foram a razão da melhoria de seus negócios, mas a hipótese é boa.
Ser o protagonista
Fico perplexo com o fato de julgarmos que o amor se alimenta de renúncias. Saudável é aprender a fazer coisas que não se faz, por amor. Um dia, depois de tantos dias sozinho, meu amigo confessou que gostaria de arrumar uma companheira. Na verdade, a questão é: nada ocorre se você não provocar.
É nesse sntido que o coaching nos ensina a tomar a vida nas própria mãos, sermos protagonistas da vida e não apenas espectadores. O lado proativo da vida é ser capaz de construir contexto cujo desenrolar promova situações que direcionem as ações para os objetivos desejáveis. Foi isso que meu amigo fez, começou a divulgar seu desejo por uma namorada na sua rede de relacionamentos, passou a frequentar lugares onde as possíveis candidatas frequentavam, ficou disponível a novas amizades.
O retorno
Não demorou muito, estava ele de namorada nova. O novo relacionamento do meu amigo firmou-se e surgiu a dúvida: será que ela gostaria de se casar comigo? Declarar o desejo é o ponto de partida. Muitas vezes vivemos momentos de ansiedade porque não temos a coragem de declarar nossos desejos. A maioria das vezes, reagimos às interpretações e não aos fatos.
Dias depois ele me ligou entusiasmado e não quis me adiantar nada ao telefone. Marcamos nosso encontro para o dia seguinte.
- Homero, pedi minha namorada em casamento e ela aceitou de imediato. No entanto, fez uma exigência. Considerando nossa história, o pedido deveria ser feito formalmente na presença dos amigos comuns e da família. Além disso, na ocasião, eu deveria usar um blazer vermelho.
* Homero Reis
Coach
Publicado originalmente no jornal "Diário Catarinense".