Na Arte Real só é amigo e irmão quem estiver maçonicamente regular?

Neste sábado de agosto, amanheci, como se diz no meu Ceará, invocado com uma situação, que apesar de iniciado na Ordem Maçônica há mais de 58 anos, ainda não consegui compreender, embora tenha procurado explicações; para o fato de que quando um maçom se afasta da Ordem e passa à condição de irregular, não mais é considerado como irmão e amigo, mesmo que se diga que dele  jamais se apagará a sua iniciação propriamente dita.

Por exemplo: quando um cidadão é iniciado em uma Loja maçônica, imediatamente ele passa a ser considerado um irmão e amigo, sua esposa nossa cunhada e seus filhos nossos sobrinhos e passamos a com ele conviver maçonica, familiar e socialmente. Nascendo deste convívio grandes amizades e profundos entrelaçamentos afetivos.

Porém, quando esse mesmo irmão se afasta dos trabalhos maçônicos, seja por qual motivo, em geral perdemos o contato com ele e com seus familiares. Aquela “grande amizade fraternal” desaparece como por encanto.

Assim também acontece quando este mesmo irmão e amigo passa a pertencer a uma outra potência maçônica  em face de uma cisão ocorrida, não por sua culpa, mas por culpa dos dirigentes das potências em litígio, na maioria dos casos por causa da luta fraticida pelo poder temporal.

Imediatamente esse irmão fica proibido de frequentar a Loja do seu amigo, do seu irmão de sangue, de seu genitor, de seu genro, de seu padrinho de maçonaria, do seu chefe na repartição em que trabalha, do seu colega de trabalho, de seu sobrinho de sangue, etc. Ou seja, cria-se uma situação extremamente desagradável na relação de  “amizade fraternal” e, em termos de sociabilidade maçônica, se estabelece, muitas vezes, uma lacuna  irreparável.

A impressão que se tem em caso de cisão, é a de que do outro lado, isto é, na outra potência só existem antigos amigos, que no passado se reuniam, se abraçavam e brindavam a vida juntos, e de repente, num passe de mágica,  passaram a ser adversários, isto porque se estabelece uma proibição de intervisitação, ocasionando o afastamento físico de uma convivência fraternal. (que  permanece?)

Esta situação, também,  acontece no ambiente acadêmico maçônico, nas Academias ditas maçônicas – denominação a meu ver incorreta  -, particularmente nas Academias que são criadas e mantidas por uma potência maçônica; no caso de um de seus acadêmicos passar a pertencer a outra potência não reconhecida pela sua potência de origem. Nesta situação, tem se observado que este acadêmico é convidado a se retirar do quadro social de sua Academia.

Porém, nas Academias ditas maçônicas, mas sem nenhum vínculo institucional com nenhuma potência dita regular e reconhecida, no Brasil, tal não acontece ou não deve acontecer, até porque as Academias não são Lojas maçônicas, não realizam sessões ritualísticas, não usam traje maçônicos, seus membros não se comunicam por meio de sinais, toques e palavras, secretos,  seus cargos têm denominação adotada na sociedade e de acordo com que estabelece o Código Civil Brasileiro. Por fim, não dependem de se estabelecer  tratados de amizade e de reconhecimento com Potências Maçônicas, até porque não são consideradas como entidades paramaçônicas.

Situações estas, que geram desconforto no ambiente do povo maçônico, formado pelo contingente obreiro – considerado como a principal fonte de recursos financeiros para a manutenção das suas respectivas Potências Maçônicas -, principalmente nos relacionamentos interpessoais entre obreiros de potências em litígios.

Em resumo, estes impasses permanecem no dia a dia maçônico, porque existe todo um conjunto de normas que tratam das regularidades e das irregularidades obreiras e institucionais, os quais subsistem  enquanto durar as cisões e somente cessarão quando a união voltar a reinar no ambiente potencial maçônico, então envolvido.

Porém, tais impasses não deveriam refletir ou ter consequências estendidas ao ambiente acadêmico maçônico, em face das características acima elencadas, e onde militam obreiros dedicados à literatura, a poesia e aos demais setores da Cultura, que dedicam seus labores na produção do saber, como contribuição para o enriquecimento cultural  da Arte Real, independentemente da potência maçônica a que pertençam, mesmo porque o conhecimento não tem fronteiras.

Helio P. Leite
Academia Nacional de Maçons Imortais
Presidente

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