Muros invisíveis
Quando o novo presidente dos EUA anunciou um muro fronteiriço com o México, não me assustei. Um muro físico nada mais é do que a materialização do muro invisível que paira bem diante de todos, como uma névoa imperceptível.
É um muro feito de rancor, de preconceito e de ódio pelo diferente.
É um muro que nasce, muitas vezes, no próprio lar. E é vedado, surgindo apenas em momentos oportunos, como uma ferida mal cicatrizada.
Não me assusto mais com muros físicos. Eles são apenas barreiras palpáveis.
O grande problema é o muro que emerge no âmago das pessoas. O muro separatista de almas, erguido com tijolos de um ódio, de uma virulência, de um gosto pela violência, não física, mas moral.
Não há diferença entre o presidente dos EUA e aqueles que apoiam um tal deputado federal brasileiro, famoso por suas palavras preconceituosas e repletas de rancor - e muitas vezes usando o nome de Deus em vão para cimentar a “obra”.
Quando me perguntam o que acho de tal muro, apenas penso: ele sempre existiu.
O verdadeiro muro não é físico. É invisível aos olhos. É uma construção passada de geração em geração, sempre buscando algo diferente para decretar: o mal reside ali e nós devemos nos unir contra ele, custe o que custar.
O preço todos conhecem: tem como saldo o sangue, a dor e o medo, numa onda que só tende a se ampliar.
Em tempos de ódio, quem tira tijolos de seu muro separatista é o verdadeiro construtor de um mundo um pouquinho melhor. É uma batalha diária, uma obra sempre a exigir atenção para que se substitua os tijolos de rancor por bons sentimentos.
A questão que fica: estamos construindo muros invisíveis de ódio ou nos permitindo criar pontes de tolerância e respeito?
Juliano Schiavo
Jornalista e biólogo.
Originalmente publicado em: www.diariodonordeste.verdesmares.com.br