Matamos uma geração?

 

"Me deixa! Estou estressado!"

A geração que se estressa e se frustra por tudo. Que se considera eternamente infeliz. 

 

O que buscam esses meninos? O que lhes prometeram? Que o importante é ser feliz? Que ele pode ser o que quiser no lugar que quiser? 

 

Que se estudar faculdade X vai se realizar, que se estudar na escola Y vai passar direto e depois é só correr para o abraço? 

 

Jovens que vão aos consultórios com demandas frágeis e de muito sofrimento. A dor da falta do não faltar. Sensação de não pertencimento, de estar perdido, de não saber o que quer da vida, nem saber se quer alguma coisa. Geração de poucos adjetivos. 

 

O show das três bandas foi TOP, a viagem à Disney foi LEGAL. O aniversário no buffet foi NORMAL. O casamento da melhor amiga foi CHATO. E se sente frustrado, mas não identifica o que lhe falta. Chora pelo golfinho ferido, mas não tira seu prato da mesa do shopping. A culpa é do machismo, é dos facistas, das feministas, dos petistas, dos istas.

 

Colaborar em casa é "favor", arcar com despesas nem pensar, participar de tarefas, seja fazer mercado, alimentar os dogs, ir ao banco, cartório, farmácia... tudo é postergado, é exaustivo. Geração das polpas de frutas, não descasca laranja, não chupa caroço de manga. Vive de sonhos áureos, mas não quer pisar no chão quente para alcançá-los. 

 

Começar a trabalhar sem muito ganhar, nem pensar. Quem marca suas consultas, médicos, dentistas? Não visita avós, não sai de seus quartos fantasiando no mundo irreal do Instagram. Aponta defeitos em comentários nas redes sociais. Não elogia. Acredita que todos exigem muito deles. Não oferece seus préstimos. Reclama do mínimo obstáculo. Culpa os pais por "forçarem a barra". 

 

Na escola, solucionaram problemas matemáticos em turmas avançadas e não conseguem solucionar problemas reais de tirar segunda via de boletos, de ir à repartição pública e lidar com burocracias... Querem respostas rápidas, fáceis e ficam aborrecidos sempre, mesmo quando essa resposta vem. Entediam-se. Trocam de escola, de curso, de emprego, de parceiros, de amigos, nada nem ninguém os compreende. Nada preenche. Culpam o sistema, a família, o amigo difícil, o porteiro chato, a coordenadora do curso, a lei, o chefe que exige. 

 

Reclama do almoço, de não ter roupa pra sair, de não ter dinheiro. Passa o dia no ar-condicionado, consumindo o salário dos pais. 

 

Anda de carro, uber, táxi... Não lava suas cuecas nem suas calcinhas. Não busca conhecimento. Nem espiritualidade. Não se encanta com decorações natalinas, nem com um ipê florido no meio da avenida. 

 

Reivindica direito de expressão e não oferece ação. Atitude. Considera-se vítima dos pais. Julgam. Juízes duros! Impiedosos! Condenam. Choram pelo cachorro maltratado e desejam que o homem seja esquartejado. Compaixão duvidosa. Amorosidade mínima. "Preciso disso! Tem que aquilo!" E haja insatisfação! Infelicidade. 

 

Descontentamento. Adoecimento. Depressão. Suicídio... 

Geração estragada. Inconformada. Presa em suas desculpas. Acomodada em suas gaiolas de ouro. Inerte, não assume a responsabilidade de viver, de se mexer, de traçar seu caminho, de enfrentar o que está fora da caverna de Platão.

 

Posta sorrisos, praias paradisíacas, mas não se banha do mar curador.  Limpam o lixo na praia com os amigos e não arrumam a própria cama. 

 

Em casa, estampa tristeza, sofrimento, dor... a dor de ter que crescer sem fazer por onde merecer.

 

 

Cristiane Soares Galdino