Maçonaria: prevalência do Espírito sobre a Matéria

Introdução

Antes de qualquer comentário, faz-se necessária uma pequena reflexão sobre a busca metafísica da essência do espírito. Para encontrar a essência do espírito faz-se necessário despirmo-nos de todo conceito e filosofismos judaico-cristão. Assim, podemos analisar sem os dogmas dos estigmas ocidentais, o homem na sua essência e a busca do SER, essência primeira e causa de todas as causas.

Primeiramente vejamos a forma, ou melhor, a maneira pela qual o homem vê a si perante o Universo. A percepção que o homem tem de si mesmo, como de um individuo distinto dos demais e com uma individualidade permanente, é uma ilusão. Demonstra, só e apenas a forma exacerbada de valorização do “EU”, o egoísmo, a falibilidade, a maneira pela qual o homem apenas vê, enxerga, o universo através de um prisma, de uma ótica deturpada.

O culto do eu!

Na verdade, o que entendemos como o nosso “eu” é na realidade um conjunto de circunstâncias e de agregados temporários que, na ignorância, tomamos por um todo único. Estes componentes, conhecidos tecnicamente no Budismo como “skandas”, são cinco:

O corpo;
Os sentimentos;
As percepções;
Os impulsos e emoções;
Os atos de consciência
;
A combinação destes fatores dá-se através das leis de causa e efeito e eles ocorrem não só no mundo material. O individuo, portanto, na sua essência, não corresponde a uma entidade isolada, eterna, mas pode-se falar de uma consciência individual – sem uma base física, como a entendemos – que é o sujeito da lei de causa e efeito e, este sim, eterno.  Matthieu Ricard – no livro “O Monge e o Filósofo” – refere-se a esta consciência individual como um “fluxo de consciência”.

A este fluxo de consciência, como resultado das suas ações se agregam os cinco “skandas”, resultando no ser material ou espiritual. A libertação espiritual é descrita por Matthieu como a purificação deste fluxo até ao ponto da sua pureza máxima. A combinação dos fatores acima dá-se através das leis de causa e efeito e eles ocorrem não só no mundo material, como também nos mundos espirituais.

O corpo subtil, espiritual, também é temporário e, do mesmo modo que o físico, um elemento sujeito as vicissitudes da lei de causa e efeito. O ser que atinge a iluminação no Budismo, pelo menos no Tibetano, não deixa de existir, mas a sua existência não está mais sujeita ao ciclo de reencarnações ou presa as leis de causa e efeito. Completamente livre de todos os fatores que o prendem a um corpo perecível, seja nos mundos materiais, seja nos mundos subtis – os preceitos filosóficos do Budismo reconhecem diferentes níveis de existência – ele goza de uma paz absoluta e da compreensão total do Universo.

A sua “consciência” continua a existir – consciente de si mesma – mas sem a ilusão de que é algo independente de todas as outras consciências ou do Universo.

“O espírito junta-se então ao próprio espírito do Buda (quando atinge a iluminação), essa substância chamada espírito subtil, sem começo nem fim, independente do corpo e do cérebro, e sem dúvida a verdadeira causa da consciência. Este espírito subtil que se manifesta, finalmente livre de todo apego, eliminou totalmente os obstáculos que se opunham à visão ‘da última natureza de toda a existência’ (…) ”

Na nossa análise, como dissemos alhures, despimo-nos de todos os preceitos e preconceitos judaico-cristãos. Não vamos analisar a relação corpo fluídico e corpo material à luz do que entende a Bíblia e os Livros Judaicos. Afinal a Maçonaria, apenas no ocidente e nos países que seguem as doutrinas judaico-cristã utilizam a Bíblia como parâmetro de verdade absoluta.

Cingir os nossos estudos sobre a prevalência do espírito sobre matéria apenas ao que diz e entende a sociedade judaico-cristã seria limitar o conhecimento do SER ABSOLUTO.

E estaríamos retrocedendo, retornaríamos ao mais negro período do conhecimento humano, quando tudo se via limitado pela instituição da Igreja Apostólica Romana como detentora do conhecimento e da verdade católica. Nesta época o espírito estava submetido a mais dura das ditaduras, aquela que impedia, inclusive, o próprio pensar.

O nome “maçonaria” provém do francês maçonnerie, que significa “construção”. Esta construção é feita pelos maçons nas suas Lojas (Lodges), alguns autores dizem que a palavra é mais antiga e teria origem na expressão copta Phree Messen (Franco-maçon), cujo significado é “filhos da luz”.

Dai, o antagonismo entre o pensar maçônico e a dura tirania medieval. Na Idade Média havia dois tipos de pedreiros; o rough mason (pedreiro bruto) que trabalhava com a pedra sem lhe extrair forma ou polimento. E o Freemason (pedreiro livre) que detinha o segredo de polir a pedra bruta.

Da meditação

Quando o homem busca a integração e interação com o universo

Alguns autores definem meditação. A meditação costuma ser definida da seguinte maneira: um estado que é vivenciado quando a mente se torna vazia e sem pensamentos; prática de focar a mente num único objeto (por exemplo: numa estátua religiosa, na própria respiração, num mantra); uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um poder mais alto. Somos contrários a qualquer tipo de definição, principalmente, com relação a “meditação”.

O mestre Régis Jolivert ensina que definir significa delimitar. Por se tratar a meditação um ato soberano do espírito, tentar defini-la significaria, buscar limitá-la, o que seria impossível. Erro crasso é limitar a meditação a um estágio que a mente se encontrar vazia e sem pensamentos. Vazia, significa sem qualquer conteúdo. Como poder-se-ia dizer mente vazia quando a meditação consiste em abstrair os conceitos de espaço-tempo.

Assim, a meditação na Maçonaria consiste na abstração de conceitos pré-estabelecidos, o atingir a plenitude da liberdade, igualdade e fraternidade. Atingir a plenitude do EU MAÇÔNICO, plenitude do CONHECIMENTO. Meditar. Atingir CONHECIMENTO PLENO. Chegar ao EU MAÇÔNICO.

LUZ!
IGUALDADE.
FRATERNIDADE.
IGUALDADE.
MEDITAR – AMOR – REALIDADE – VERDADE – TRANSCENDÊNCIA MAÇÓNICA
.
Atividade contemplativa do Espírito.

Conclusão

A divulgação das práticas de meditação no mundo Ocidental recebeu uma grande contribuição das técnicas milenares preservadas pelas diversas culturas tradicionais do oriente.

Uma das escolas em que ela evoluiu independentemente foi o Sufismo.

Sufismo (árabe: tasawwuf; persa: Sufi gari) é a corrente mística e contemplativa do Islão. Os praticantes do sufismo, conhecidos como sufis ou sufistas, procuram uma relação direta com Deus através de cânticos, música e danças.

Nas filosofias religiosas do oriente, como, Bramanismo, Budismo e as suas variações como o Budismo Tibetano e Zen, Tantra e Jainismo, bem como nas artes marciais como I-Chuan e Tai Chi Chuan, a meditação é vista como um estado que ultrapassa o intelecto, onde a mente é posta em silêncio para dar lugar à contemplação espiritual. Este “calar a mente” induz uma volta ao centro (meio, daí meditar), para o EU (COMPLEXO – NÓS) interior.

A Maçonaria busca na sua metafisica a prevalência do Nós – EU IMATERIAL – sobre as situações que se lhe apresentam. O espírito pleno – verdade – sobressai sobre a matéria. Meditação – misticismos – Maçonaria são faces da mesma moeda. Demonstrando ESPÍRITO E MATÉRIA, e a subtil prevalência do ESPÍRITO sobre a MATÉRIA. Busca do ponto de Equilíbrio e a transmutação entre e matéria e espírito e ESPÍRITO E MATÉRIA. A Vitória do EU (NÓS) sobre o Eu-simples manifestação do ego.

Caracterizada, pois a prevalência do espírito sobre a matéria como a busca maior da MAÇONARIA.

Antônio Ivan da Silva Junior
Oriente de Recife (PE) – Brasil

Bibliografia

LIVRO – Alcorão; SAGRADO PARA – Islamismo; ESCRITO NO – Século 7; QUEM ESCREVEU – Maomé ditou os textos aos seus escribas
O conteúdo do Alcorão reúne as revelações divinas feitas pelo anjo Gabriel a Maomé ao longo de 20 anos. Mas o livro sagrado dos islâmicos só foi organizado após a morte do profeta, em 632. Os seus 114 capítulos compilam os ensinamentos básicos do islamismo: fé, oração, caridade, jejum e peregrinação a Meca ao menos uma vez na vida
LIVRO – Tripitaka; SAGRADO PARA – Budismo; ESCRITO ENTRE – 500 a.C. e o início da era cristã; QUEM ESCREVEU – Discípulos de Buda
As “três cestas” (Tripitaka, em páli) que o livro contém são o “Vinaya Pitaka”, com regras para orientar a conduta diária dos seguidores, “Sutta Pitaka”, uma colectânea de discursos atribuídos a Buda e os seus discípulos, e o “Abhidhamma Pitaka”, uma investigação filosófica sobre a natureza da mente e da matéria humana.
LIVRO – Tenakh; SAGRADO PARA – Judaísmo; ESCRITO EM – 1300 a.C. (aproximadamente); QUEM ESCREVEU – Moisés e profetas israelitas.
O Tenakh reúne 24 livros em três grupos: Neviim (“Os Profetas”), Ketuvim (“Os Escritos”) e Torá (“A Lei”), que traz os cinco primeiros livros do Velho Testamento: Génese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio. A Torá é atribuída ao profeta Moisés, que teria escrito a obra a partir de uma revelação de Deus.
LIVRO – O Livro dos Vedas; SAGRADO PARA – Hinduísmo; ESCRITO ENTRE – 1500 a.C. e 1200 a.C.; QUEM ESCREVEU – A autoria é desconhecida
Em sânscrito, Vedas significa “conhecimento”. Para os hinduístas, o livro é fruto de uma revelação divina. Por muitos séculos, ele foi preservado pelos ensinamentos passados de pai para filho. Os textos reúnem hinos, encantações e receitas mágicas que constituem a base da tradição religiosa hinduísta.

Publicado originalmente em: https://www.freemason.pt/