Maçonaria em construção - 3

 

“E, quando estou nesta confiança e neste abandono, transformo-me no próprio Amor, torno-me Um com o aquele que amo”. Jean-Yves Leloup. Apocalipse – Clamores da revelação.

 

Um homem se aproxima de um pedreiro dentre centenas que trabalham na construção de um edifício e lhe pergunta o que faz. Ele responde: eu quebro pedras. Escolhe outro e lhe faz a mesma pergunta. Este lhe responde: eu estou construindo uma catedral. Ouviu a resposta de um mestre maçom.

 

A pedra filosofal.

A pedra filosofal é o símbolo do grau de mestre maçom, o estágio iniciático do cuidar do Ser.

 

O grau de mestre maçom revela que não sou o criador da minha vida, que existe um principio que transcende a minha existência o qual as organizações maçônicas atribui o título de o Grande Arquiteto do Universo. As organizações maçônicas aceitam que cada obreiro tenha a sua própria concepção do que seja Deus em conformidade com o seu nível de consciência. Assim, este título é a forma encontrada para harmonizar as mais diversas concepções de Deus que os homens estabeleceram ao longo do processo civilizatório de cada povo.

 

No grau de mestre o obreiro é chamado a continuar o seu caminho de aperfeiçoamento na direção da fonte primeira da vida, a vida eterna. No grau de aprendiz o primeiro passo foi conhecer a si mesmo, no grau de companheiro o primeiro passo foi o conhecer o outro, no grau de mestre o primeiro passo é reconhecer que na fonte do meu ser existe o Ser Universal.

 

Conhecer o Grande Arquiteto do Universo significa compreender que na origem dos meus amores existe o Amor. Conhecer o Grande Arquiteto do Universo significa compreender que a origem da minha inteligência existe a Inteligência. O mestre maçom é como um rio que sabe que para o seu existir perene é necessário que ele esteja ligado à fonte.

 

O mestre maçom sabe que a alma é imortal quando voltada para o Grande Arquiteto do Universo. Mas, não é bastante este saber, é necessário que haja um culto ao Ser Universal, razão porque as sessões maçônicas obedecem a um rito e a uma liturgia. Rito e liturgia voltados para atualizar os fundamentos da crença no Grande Arquiteto do Universo. Neste sentido as sessões maçônicas objetivam propiciar condições para que haja: a abertura do meu ser particular ao Ser Universal; a abertura do meu espírito ao Espírito, dos meus limites ao Sem Limites; o encontro do meu sopro ao Sopro Original.

 

O mestre Leloup resume estas duas etapas do despertar da pedra filosofal existente em cada obreiro como as belas palavras: “Reconheço que o Ser existe. Não sei o que Ele é. Mas, sei que Ele É e sei que Ele me faz ser e faz ser o mundo. E isto me conduz a uma qualidade de inteligência que chamo de adoração.”

 

A terceira etapa da revelação da pedra filosofal surge naturalmente após as duas primeiras etapas e consiste na confiança no Ser. A maçonaria esta sendo construída porque confiamos em nós mesmos, porque temos confiança nos outros e porque confiamos em Deus.

 

Na sessão de iniciação ao grau de mestre há a atualização do mito que fundamenta a Maçonaria. O mito do mestre que não perde a confiança nas suas crenças, mesmo diante da morte eminente. O mito do mestre que nos mostra um obreiro que obedece rigorosamente o plano traçado para a construção de um templo à gloria do Grande Arquiteto do Universo. Este plano lhe foi apresentado como uma Ordem vinda do Inexplicável, do Inefável, que os próprios construtores não lhe conhecem o seu verdadeiro nome. Outros preferiram referissem ao Inominável.

 

Dependendo do grau de consciência de cada obreiro Ele se lhe apresenta com diferente semblante. Para os cristãos Ele se apresenta no semblante do Cristo. Para os budistas no semblante de Buda. Mas, não importa com que semblante o Ser se lhe apresenta, não importa mesmo nem como você o represente, pois para além das manifestações do Inefável há que se confiar no Amor que dá sentido as razões do coração humano e o caminhar das estrelas. Afinal, somos poeiras de estrelas e como tal somos estrelas, quando nos identificamos Um com Elas. Neste sentido, o mestre maçom é o obreiro que constrói um templo à glória do Grande Arquiteto do Universo, sendo ele a própria pedra desta construção participativa do amor de Deus.

Hiran de Melo

Oriente de João Pessoa/Paraiba.

 

Ilustração: Carmen Lara Alexandre