Maçonaria e Maçons: Máquina perfeita com combustível adulterado?
Quem me conhece sabe que adoro ensinar maçonaria por analogias; o meu melhor trabalho foi “Vinho e Maçonaria: uma Analogia além do Simbolismo”, rejeitado por alguns e apreciado por outros, mas que se tornou uma fonte de pesquisa para quem precisa compreender os cargos na Maçonaria sem muita dificuldade. A questão é que nunca publiquei aqui devido ao seu tamanho (quase quatro mil palavras), mas irei falar sobre outra analogia, mais simples e com menos palavras.
Imagine um automóvel, símbolo máximo da engenharia e da cooperação humana. Este veículo, tal como a Maçonaria, é uma obra- prima de design e funcionalidade, onde cada peça, cada componente, desempenha um papel crucial no seu funcionamento harmonioso. Nele, o combustível desempenha um papel vital, alimentando o motor e possibilitando o movimento suave e eficaz. Mas o que acontece quando este combustível é de má qualidade? Pois é, passei por isso na última viagem a Recife/PE e continuo passando na Maçonaria.
Vou procurar deixar essa analogia crítica um pouco mais divertida, para uma melhor compreensão de como um “combustível ruim” pode impactar tanto um veículo quanto a Maçonaria.
Primeiro devemos entender a complexidade do veículo; assim como a Maçonaria, este carro não é fruto do acaso; foi concebido através de séculos de aprimoramento e sabedoria acumulada. Cada parafuso, cada porca, cada centímetro de cabo elétrico foi pensado para colaborar em um objetivo comum: levar o passageiro do ponto A ao ponto B da maneira mais eficiente, segura e confortável possível.
Na Maçonaria, cada Maçom é uma peça fundamental em uma máquina complexa; cada ritual, cada símbolo, cada grau tem um propósito específico, destinado a promover o crescimento pessoal, a harmonia entre os membros e a contribuição para a sociedade. Assim como no veículo, onde cada peça deve estar em perfeito estado para garantir o funcionamento ideal, na Maçonaria, cada membro deve estar comprometido com os princípios e valores da fraternidade.
O combustível do veículo representa os Maçons ideais, aqueles que trazem energia positiva, motivação e dedicação à Ordem. Eles são refinados, tal como o combustível de alta qualidade, sem impurezas que possam danificar o motor. Esses Maçons entendem e respeitam os rituais, contribuem ativamente para o crescimento da Loja e são exemplos de virtude e moralidade. Um combustível de alta qualidade garante que o motor funcione suavemente, sem solavancos ou falhas. Ele queima de forma eficiente, gerando a energia necessária para que o veículo avance com firmeza e segurança. Da mesma forma, os Maçons comprometidos e virtuosos alimentam a Maçonaria com sua sabedoria, integridade e vontade de servir, garantindo que a fraternidade avance em direção aos seus objetivos com harmonia e eficiência.
Agora, quando introduzimos um combustível ruim, contaminado com impurezas, aditivos inadequados e resíduos que comprometem a performance do motor, este, pode causar entupimentos, corrosão e desgaste prematuro das peças, resultando em um desempenho abaixo do esperado e, eventualmente, em falhas mecânicas graves. Na Maçonaria, o “combustível ruim” é representado pelo Maçom que não está alinhado com os princípios da Ordem. Este membro pode estar mais interessado em vantagens pessoais do que em contribuir para o bem comum. Pode ser negligente com os rituais, desrespeitar os símbolos e, pior ainda, semear discórdia entre os Irmãos. Assim como o combustível contaminado, este Maçom traz consigo atitudes e comportamentos que prejudicam o funcionamento harmonioso da Loja ou de uma Potência inteira.
Quando um combustível ruim é introduzido no motor, os efeitos negativos não são imediatos, mas se acumulam ao longo do tempo. Inicialmente, pode haver apenas uma leve perda de desempenho, talvez um ruído estranho aqui e ali. Mas, com o tempo, as impurezas começam a causar danos mais sérios: o motor começa a falhar, o carro perde potência, e eventualmente pode parar de funcionar completamente. De maneira similar, o impacto de um Maçom problemático pode começar de forma sutil. Pode ser uma pequena discordância aqui, um comentário negativo ali. Mas, à medida que esses comportamentos se acumulam, começam a afetar o moral dos outros membros, a criar divisões e a desviar a Loja dos seus objetivos principais. Se não for tratado, esse “combustível ruim” pode levar a uma quebra significativa da harmonia e do propósito da Loja, assim como o motor do carro pode eventualmente parar de funcionar.
Os engenheiros automotivos sabem da importância de utilizar apenas combustível de alta qualidade e realizar manutenções preventivas regulares para garantir o funcionamento ótimo do veículo. Eles desenvolvem filtros, sistemas de limpeza e procedimentos de manutenção para prevenir e corrigir problemas antes que se tornem graves. Essa manutenção preventiva também é essencial na Maçonaria. Os líderes da Loja devem estar atentos ao comportamento e às atitudes dos membros, oferecendo orientação e correção quando necessário. Os rituais, os ensinamentos e as leis são os filtros que ajudam a purificar e alinhar os pensamentos e ações dos membros, garantindo que a energia negativa não se acumule e cause danos à irmandade. É crucial ter processos para identificar e tratar comportamentos indesejáveis. Isso pode incluir sessões de mediação, aconselhamento e, em casos extremos, a remoção do membro que se recusa a alinhar-se com os princípios da ordem. Esses processos são os “aditivos de limpeza” da Maçonaria, ajudando a purificar a energia dentro da Loja e garantindo que apenas aqueles verdadeiramente comprometidos com os valores maçônicos permaneçam.
Uma vez que o veículo foi purificado do combustível ruim e foram realizadas as manutenções necessárias, o motor volta a funcionar de maneira suave e eficiente. O carro pode então cumprir sua função de transportar o passageiro com segurança e conforto. Da mesma forma acontece quando uma Loja Maçônica purifica suas fileiras e alinha todos os seus membros com os princípios e objetivos da fraternidade. A harmonia é restaurada e a Loja pode então funcionar de maneira eficaz, promovendo o crescimento pessoal de seus membros e contribuindo positivamente para a sociedade.
Essa analogia nos mostra que, tanto na mecânica automotiva quanto em nossa fraternidade, a qualidade dos componentes é crucial para o funcionamento harmonioso e eficiente do “todo”. Um combustível de má qualidade pode comprometer o desempenho de um veículo, assim como um membro desalinhado pode prejudicar o progresso de toda uma Loja. Contudo, com manutenção adequada, purificação constante e um compromisso inabalável com a qualidade e a integridade, tanto o carro quanto a Maçonaria podem alcançar seu potencial máximo, oferecendo uma viagem suave e enriquecedora para todos os envolvidos.
É quase impossível impedir que um combustível ruim entre no tanque de nosso veículo, pois não sabemos sua composição interna, mas com observação e manutenção de forma preventiva constante, poderemos diminuir o impacto e futuros prejuízos, só assim, tanto o automóvel quanto a fraternidade podem continuar sua jornada, superando desafios e alcançando novos horizontes, sempre em busca da perfeição.
Carlyle Rosemond Freire
Mestre Maçom (Instalado), CIM 307.07
A∴R∴L∴S∴ "Terceiro Milênio" Nº7 - Grande Oriente de Alagoas - GOAL
Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Artes - AMCLA - Cad. 113