Lobo do homem

 

A inesgotável surpresa de encontrarmos no outro a revelação de quem somos é a mais manifesta e crua manifestação de verdades. Observamos ano passado, estupefatos a votação na Câmara dos Deputados quando do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff. 

Cenas grotescas de um egoísmo escancarado e sem o menor espírito público.

 

Novamente, lembramos o espantoso caos urbano em Vitória, no Espírito Santo, desencadeado pela paralisação das forças policiais. Vizinhos roubando propriedade dos moradores do próprio bairro, a pé e de cara exposta! Pessoas saqueando lojas e levando eletrodomésticos nos ombros pelas ruas. Sem o menor pudor.

 

Cidadãos comuns que sem constrangimento revelaram-se o que são bandidos, comprovando a teoria de Thomas Hobbes, que diz que ‘o homem é o lobo do homem’. Máxima testada e comprovada nestes tempos de violência desmedida e corrupção banalizada, que tira do prato de brasileiros o direito a uma vida mais digna. Revelamo-nos, sem querer, pelo outro, através do outro, junto com o outro. Não conseguimos fazer reformas estruturais. Não queremos! Não fizemos revolução da educação, nem as reformas políticas e tributária, nem reforma alguma. Nossos dois lados antagônicos uniram-se.

 

Enfim, integramo-nos. Fazemos todos agora de um só corpo autodestrutivo, doente e decadente. Esse mesmo corpo só pensa em si, no curto período de vida que ainda resta, não tem futuro nem se prende ao espírito de sacrifício dos antepassados por seus descendentes.

 

Adoece cada vez mais na ganância insana, perdeu o sentido de virtude que implica em favorecimento daquilo que está fora de si. Só nos resta uma ruptura radical para um renascimento.

 

Vanilo de Carvalho - Advogado

Publicado originalmente em Opiniões do Diário do Nordeste.