Libertação…
Estou com olhos e nariz ardendo de tanta poeira. Tirei mais coisas do meu quarto do que poderia supor que tiraria. Joguei uns dez quilos de correspondências fora, incluindo as estrangeiras e até mesmo as da “Ami”, ou seja, não sobrou nenhuma nem para contar história. Guardei apenas alguns cartões postais e cartões de natal para uma pequena lembrança. Embora a principio dê um aperto no coração seguido de uma dose de nostalgia, o sentimento seguinte é de intenso alívio e foi assim que concentrei minhas energias para fazer a limpeza, imaginando que também estava retirando de meu interior um monte de bagagem desnecessária.
Tirei algumas peças de roupas e também joguei fora todos os “livros” que escrevera à mão num passado chamado adolescência. Coloquei para fora todos os livros da época em que estudava outras línguas. Hoje parece-me um absurdo eu ter guardado-os por tantos anos sem absolutamente nenhuma serventia. Como tia “Pituca” está outra vez tentando aprender inglês para ir novamente aos Estados Unidos, talvez ela queira esse material. Creio que poderia ter eliminado muitas outras coisas (que dá vontade, isso dá), mas prefiro ir com calma.
Além disso a infinidade de bobeiras que mantinha entulhando espaço era grande: tarôs velhos e dois jogos de baralho, uma mini harpa, fotos hiper velhas cuja revelação não prestara, duas maquinas fotográficas da época do papai, dois celulares imprestáveis que mamãe pôs de enfeite na minha estante, cabaças e mais uma tranqueira sem tamanho. Resolvi que vou desmontar a estante do meu quarto e colocar uma mesa no lugar dela, pois ultimamente está me faltando um local para fazer meus desenhos e pinturas.
Então acomodei alguns bibelôs de mais estima numa caixa e guardei na prateleira do guarda-roupa. Deixei as pedras e conchas na intenção de colocá-las de enfeite num canto da mesa. Estou dando uma geral bem grande e imaginando o bem que isso provavelmente me fará por dentro.
Espero que de agora em diante eu treine mais o desapego, não no sentido de jogar fora o que é velho, mas sim de abrir mão de coisas novas e recentes que eu não veja serventia futura.
Sinto-me uma tola de ter guardado tanto “lixo” simplesmente por guardar, ou melhor, unicamente por não conseguir dispor-me dele, mesmo sabendo que ele não me serviria absolutamente para nada.
Geralmente não tenho apego por medo de precisar de algo descartado no futuro, pois sei muito bem o que posso precisar (o que me interessa no presente) ou não.
Verifico que meu apego era apenas uma necessidade de manter lembranças palpáveis. Com posse dessa conscientização a meu respeito, ficará muito mais fácil lidar com essa questão, pois internamente sou uma pessoa totalmente desprendida da matéria.
Sinto que tudo o que me é necessário agora e para todo o sempre está dentro de mim: são meus valores, capacidade, qualidades, aprendizados, lembranças, enfim, sou Eu.
Sentir isso é gratificante, me faz ficar leve, feliz, realizada, intensamente cheia de paz.
Fonte: https://naboavida.wordpress.com/2012/07/25/libertacao/