Informar o que não se conhece.
Dia desses dava uma aula sobre Freud e os processos de aprendizagem. Qual não foi minha surpresa quando, em meio à apresentação do conteúdo proposto, um aluno interrompe minha fala dizendo que não concordava com o pensamento freudiano.
Esse tipo de intervenção deixa-me particularmente muito feliz. Ter um aluno que é capaz de um posicionamento como este é algo raro hoje em dia. Comecei um debate com o dito aluno, na esperança de construir um clima acadêmico que estimulasse ainda mais a aprendizagem daquele grupo. No entanto, após os primeiros argumentos, percebi uma total inconsistência na conversa. Perguntei, então, o que de fato ele conhecia de Freud. A resposta deixou-me atônito: professor, eu nunca li nada do Freud, mas não concordo com ele. Parece-me que esta tem sido a tônica dos processos de aprendizagem de nossa sociedade acadêmica. Lê-se pouco, estuda-se pouco, mas emite-se opiniões categóricas sobre coisas das quais não se tem a menor ideia.
Lê-se pouco, estuda-se pouco, mas emitem-se opiniões categóricas sobre as coisas.
Aprender diz respeito a uma hierarquia de processos que começa com o entendimento metodológico do fenômeno, para depois agregar valor a ele. Ou seja, primeiro a gente deve entender como a “coisa funciona”, depois a gente pode dizer se concorda ou não com ela. Concordar ou discordar sem antes conhecer é um exercício de leviandade.
Outro aspecto comum é a falácia de aprender sem conhecer. Na verdade isso é o mesmo que acumular informação sem ter para ela uma aplicação substantiva. Não basta ser uma enciclopédia ambulante, é necessário fazer da informação algo que torne a vida melhor.
Ainda há outro equívoco: atitude crítica sem a sustentação do “saber fazer”. Pessoas sem competência técnica operativa, mas que são críticos daqueles que fazem.
Em síntese é assim: saber como é antes de construir juízos de aceitação ou não; transformar informações em atitudes pela experiência real; e, por fim, saber fazer para ter autoridade para criticar. Esse desafio coloca-nos numa relação de interdependência uns dos outros. Cada um conhece um aspecto da “realidade” e pode contribuir com o “seu jeito de ser”, mas ninguém domina a “realidade” toda de modo a ter a última palavra sobre o que quer que seja. Temos apenas opiniões que podem ser sustentadas pelas experiências e corroboradas pelo conhecimento, mas que sempre revela o “nosso lado”.
Não desistir diante de uma dificuldade é apenas metade da competência requerida. A outra metade é desenvolver novas competências sempre, para atravessar as dificuldades que aparecem no caminho. Daí a necessidade de estarmos juntos em grupos, equipes, comunidades, porque nos tornamos fortes quando aprendemos, de fato, a nos ajudar mutuamente.
Você não é obrigado a aceitar tudo, nem concordar com tudo. A diversidade é fundamental na construção da realidade. O que não se pode fazer é desqualificar o que não se conhece, ensimesmar-se na pressuposição de ter a última palavra, mediocrizar o conhecimento em nome da informação.
Autor
*Homero Reis – Coach empresarial ontológico e pós-graduado em Recursos Humanos.