Filosofia e Morte.
Alberto Dürer, um destacado artista do Renascimento nórdico, desenhou a instigante obra “Memento Mori”, a qual evidencia a condição humana no embate frente a finitude da vida.
O que poucos sabem é que a expressão mementos mori, que dá título à obra, é na verdade uma forma de saudação recorrentemente utilizada em alguns mosteiros durante a Idade Média.
Conta-se que era comum, entre os monges, a saudação que se utilizava da expressão latina, que significa “lembra-te de que vais morrer”, ao que era de imediato respondido com a expressão “carpe diem” (aproveite o momento). Esta informação é fulcral e se torna reveladora de que, em pleno medievo, a questão da finitude era considerada um elemento a ser analisado, e não apenas temido.
Com o advento do cristianismo, a morte, que no mundo grego antigo ocupava um espaço central, cede lugar à vida. Na tradição cristã, a morte se torna penas um meio para se chegar à vida autêntica, à vida eterna. Ainda assim, a perspectiva filosófica acerca do fim, sobretudo de cunho platônico, ainda sobreviveria e influenciaria muitos dos pensadores subsequentes.
A morte foi de protagonista na Grécia antiga ao esquecimento na idade moderna.
Com a Modernidade, o ideal cristão ganha esplendor. A vida ocupa uma posição cada vez mais elevada e a dualidade entre ela e a morte se torna mais latente. Com a revolução científica, o homem se vê dotado de liberdade e de um imenso poder de criação. Assim, a Idade Moderna assinala um processo gradual de rejeição e esquecimento da morte. Nas palavras do duque de La Rochefoucauld, encontramos a forma mais expressiva disso: “Não se pode olhar de frente nem o sol e nem a morte”. Desse modo, o homem ocidental expulsou a morte da vida cotidiana.
Evidentemente nem todos os filósofos modernos parecem estar de acordo com o horizonte do aludido duque. Para Michel de Montaigne, pensar sobre a morte constitui, por si só, uma atividade necessária e verdadeiramente filosófica. Influenciado por Sócrates, Platão e Cícero, Montaigne recorda a importância de se pensar a respeito dessa temática: “A vida em si não é um bem nem um mal. Torna-se bem ou mal segundo o que dela fazeis”.
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::>
Autor
Edimar Brígido.
Doutorando em Filosofia.
Fonte: Jornal “Diário Catarinense”.