Exercício da Tolerância

Muito se fala em tolerância, seja no ambiente familiar, no trabalho, nas escolas, nas igrejas, nas relações políticas, enfim na sociedade em geral.

Em síntese, é relevante estarmos buscando nas nossas relações diárias, sempre que possível, a composição da prática da tolerância visando um mundo melhor. E essa concretização somente será possível, inicialmente, com a nossa cota de participação no sentido de colaborar plenamente com as boas práticas que a educação basilar requer.

E, nessas boas práticas, se inclui o comportamento paciente de não cobrar dos outros sem cumprir o que nos cabe. E este é um bom ponto de partida que merece reflexão. Respeitar a opinião dos outros sem torcer o nariz quando esses se manifestam ou se alongam ao externarem a sua opinião sobre determinado assunto, pois as pessoas pensam, agem, crêem e tem valores e posicionamentos diferentes uns dos outros.

É esse comportamento que garante a beleza da vida. É evidente que essas ações e posicionamentos não podem interferir nos direitos de terceiros e nem os seus discursos, sejam eles marcados pelo amor ou pelo ódio, atingindo diretamente a um grupo ou a uma determinada pessoa.

Na realidade, cada um de nós, para realizar o exercício da tolerância deve, diariamente, buscar o respeito ao próximo, sem nos esquecermos de que existem diversos tipos de tolerância, necessitando, por conseguinte, de atenção para com todos, visando então qualquer forma de preconceito e injustiça.

Mas afinal, o que é tolerância?

O vocábulo tolerância, conforme “Rizzardo da Camino”2 deriva do termo em latim, “tolerare”, que significa “suportar”, traduzindo também, os atos comuns de “consentir”, “condescender”, “admitir”, “aceitar”. E realmente é isso que é exigido na prática.

A tolerância tem a ver com o respeito às diferenças, sejam elas físicas, comportamentais, ideológicas ou de qualquer outra natureza.

Aliás, neste mundo onde a convivência social torna a relação entre as pessoas inevitável, ser tolerante é, sem dúvidas, uma competência muito relevante, não importando o meio em que vivemos.

De acordo com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira3, trata-se do “respeito ao direito que os indivíduos possuem de agir, pensar e sentir de modo diverso do nosso”.

E, para ser tolerante, é exigido ter a mente aberta, despida de quaisquer preconceitos e julgamentos, às vezes até extemporâneos.

Entre outras formas, buscar novos conhecimentos, é uma excelente forma de conhecer a tolerância pois, assim o fazendo, se consegue entender outras realidades, sem, no entanto, ficar preso apenas a ideias que se defende ou nas quais se acredita.
É fundamental também aprender a se colocar no lugar do outro, isto é, praticar o exercício hábil da empatia, que é o modo mais eficaz de ser respeitoso com todas as pessoas. Aliás, quem não conhece a máxima: “Não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a ti”. Não é mesmo?

Nesse ritmo, cabe bem acentuar que ser tolerante requer a análise de cada atitude praticada por nós, mensurar cada posicionamento, para evitar a condição de ser inflexível com alguém. Como se vê, exige o tempo todo, a prática da reflexão.
A prática da tolerância é, deveras relevante na nossa vida, seja pessoal ou profissional, pois em qualquer desses campos nós, obrigatoriamente, interagimos com outras pessoas durante todo o dia, o que exige de nós tal conduta.

Devemos ser tolerante com os nossos familiares, parentes, vizinhos, e até mesmo com pessoas desconhecidas. Aliás, o próprio filósofo Arístocles, conhecido como pensador por Platão afirmou que: “The highest level of education is tolerance”, ou seja, “O mais alto nível de educação, é a tolerância”.

As pessoas podem ter opinião diferente da nossa, mas isso não quer dizer que ela é errada e nós os certos ou vice-versa. As opiniões derivam de visões distintas que, em alguns casos, podem ser negociáveis, buscando um meio termo e visando o bom tratamento entre as partes e, consequentemente, um melhor convívio social.

Como exemplo, alguns familiares tentam impor aos parentes a religião ou o time de futebol a seguir, geralmente aquela ou aquele que o próprio parente faça a sua escolha, logo que tiver o discernimento suficiente para permitir-se a tal. No último caso, temos a aplicação da tolerância nas relações interpessoais parentais.

Especificamente na vida profissional a aplicação da tolerância também é relevante, pois é um local onde nos deparamos a todo o tempo com opiniões diversas e, em vários momentos do dia, ainda mais, quando se tratar de um ambiente com grande número de servidores ou funcionários.

No ambiente de labor, cada pessoa tem os seus costumes, as suas manias e convicções, que os acompanham no seu trabalho durante todo o tempo e mesmo nós não sendo tolerantes, esse nosso comportamento não será razoável para mudar o colega de trabalho de uma hora para outra. E, nessa situação, costumes, manias e convicções à parte, o que importa mesmo é pensar no bem comum, o que implica em ser tolerante para o bem da empresa.

Ademais, a profusão de ideias, a variedade de pensamentos é algo que deve ser encarado de forma positiva e que, sem dúvidas, deve também ser incentivado pelas empresas, o que não pode ser tratado com intolerância.
E, com o intuito de auxiliar no sentido de se respeitar ainda mais as opiniões alheias, destacamos aqui alguns tipos de tolerância: a social, a política e a religiosa.

A tolerância social consiste no respeito de uma pessoa ou de um grupo de pessoas em relação a uma cultura distinta da sua ou valores e normas que não são contemplados pelo seu padrão moral. Como exemplo se pode citar a discriminação por gênero, raça, idade e orientação sexual.

A tolerância política tem a ver com o respeito às opções políticas de cada pessoa. Até porque estamos vivendo sob a égide de um regime democrático partidário, no qual cada um tem o direito de defender os seus candidatos e as legendas às quais estão afiliados. Você pode até discordar da orientação política do seu amigo, mas jamais deve faltar com o respeito a ele por isso.
Politicamente, temos posicionamentos de direita, centro e esquerda, qualquer um pode e deve expressar os seus pontos de vista, desde que de maneira pacífica e sem agressões, sejam elas verbais ou preconceituosas.

No nosso País, a ausência de tolerância política ocorre geralmente nos anos eleitorais, nos quais se fere a pluralidade de vozes, que é um dos valores mais caros da democracia. Já a tolerância religiosa significa ter uma atitude respeitosa com as crenças diferentes das nossas. Não é porque sejamos, por exemplo, evangélicos que iremos ser intolerantes com os islâmicos ou católicos. Nenhuma religião é melhor ou superior que a outra, apenas é diferente, devendo precipuamente, destacar a relevância da fé.

Nenhum homem e nenhuma mulher devem ser encarados com estranheza por usar, respectivamente a quipá (touca usada pelos judeus) ou o hijab (véu usado pelas mulheres islâmicas), o uso é uma questão de costume religioso. Até os ateus merecem respeito, não é porque assim se declaram que não necessitam de respeito. Respeito como seres humanos.
A tolerância é tão importante que empresas de relacionamento pessoal trabalharam várias frases, consideradas de impacto, visando o seu destaque, vejamos:

“Trate os outros como gostaria que eles o tratassem.” – Respeito ao próximo;
“Coloque-se no lugar do próximo e veja se você se sentiria à vontade com a maneira como ele é tratado.” – Se a sua resposta for negativa, está na hora de rever as suas atitudes;

“Você não precisa concordar com o outro, mas deve respeitá-lo.” Todos temos opiniões, crenças e valores diferentes dos outros. Não significa que precisamos concordar com o que os outros falam, mas sim respeitar a sua maneira distinta de ver o mundo;

“A primeira lei da natureza é a tolerância – já que todos nós temos uma porção de erros e fraquezas.” Quem somos nós para julgar os outros? Somos seres humanos passíveis de erro. Assim, tolerar e, mais do que isso, perdoar o equívoco alheio, é mais do que uma virtude, é quase um dever;

“A inveja, assim como o ódio são filhos da intolerância.” Não cultivemos nenhum desses sentimentos, pois, indirectamente, estaremos semeando a intolerância. Liberemos o nosso coração do ódio e da inveja e deixemos que os outros sejam felizes como eles acham que devem ser;

“Perdão e tolerância são a sustentação da nossa paz interior.” A paz não é apenas a ausência de conflitos, mas também a manutenção dessa realidade. É algo que se consegue de uma forma mais natural com o perdão e a tolerância;

“A melhor prova de tolerância é o respeito às diferenças.” Lembremo-nos, que existem bilhões de pessoas habitando a Terra. E cada uma delas tem o seu jeito de ser. Imagine, se fossemos implicar individualmente com cada uma delas. Além disso, que chato seria viver num mundo em que as pessoas pensassem todas do mesmo modo;

“Nada é mais atraente em alguém que a tolerância, o respeito e a paciência.” – Responda: cabelos loiros ou morenos? Olhos claros ou escuros? Vamos dar menos valor à beleza exterior: as verdadeiras belezas devem estar dentro de cada um de nós;
“A intolerância já matou muitas pessoas ao redor do mundo pelo simples facto de elas serem diferentes. Já passou da hora de evoluirmos.” O passado já mostrou que o caminho da intolerância não é o certo. Todo mundo tem o direito de pensar diferente, cultuar os seus próprios deuses e viver as suas próprias vidas;

“Derrubemos o muro da sua intolerância e construamos uma ponte em seu lugar.” Quando construímos um muro, deixamos de enxergar o outro lado e ficamos presos somente ao que conhece. Ao destruirmos esse muro e construirmos uma ponte no seu lugar um horizonte todo surge à nossa frente e podemos perceber que o mundo é muito maior do que imaginávamos.
“O maior resultado da educação é a tolerância.” Se um professor ou mesmo a vida ensinar para uma criança que não tem problema pensar diferente do seu coleguinha, e que por isso não significa que um dos dois está errado, a educação cumpriu o seu papel. E nesse caso, a tolerância venceu;

“As diferenças e a diversidade devem ser celebradas e não combatidas.” Um mundo plural é muito mais bonito e colorido. A fauna só é tão exuberante pela variedade de espécies, da mesma forma a flora. E então, por que nós, humanos, não podemos celebrar as diferenças sociais, ideológicas, religiosas e tantas outras, ao invés de combatê-las?
“Nem pior, nem melhor. Diferente.” Ninguém é melhor do que ninguém. Somos apenas diferentes. E por isso é preciso respeitar o jeito de cada um.

“A tolerância é a melhor das religiões.” Melhor que o catolicismo, o islamismo, o budismo, o espiritismo, a umbanda, o candomblé, o judaísmo, enfim, pois respeita a crença de todas as outras e, nem por isso, se acha superior às demais.
“Uma coisa é acharmos que estamos no caminho certo, outra é acharmos que o nosso caminho é o único.” Não há nenhum problema estar convicto das nossas escolhas, mas o que não é certo é querer impor as nossas ideias aos demais, como se elas fossem as únicas alternativas possíveis. Logo, o mais coerente é respeitar as convicções alheais.

“O progresso sempre se baseia na tolerância.” Nenhuma sociedade no mundo consegue crescer ou seguir em frente sem tolerância. Na Alemanha quanto tempo de progresso se perdeu com o nazismo e na África do Sul com o Apartheid?
“A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena.” Nesse quesito, qual lado você prefere estar: o do superior ou do inferior? Na verdade sempre é mais fácil julgar e condenar do que tolerar e perdoar, mas não mais prazeroso e reconfortante.

“Paciência para as dificuldades, tolerância para as diferenças e força para os desafios.” Nessa prática se você nutrir essas emoções durante esses momentos específicos, é possível que fique muito mais próximo de atingir os seus objetivos. Pense nisso e controle melhor os seus sentimentos, não se deixando levar pelos impulsos.

“Não existe opinião certa e errada. Pessoa melhor ou pior. Existe o meu ponto de vista e o seu. Eu e você. Enquanto nós nos respeitarmos, está tudo certo.” Leve esse lema para a sua vida.

“Quando entendemos que há outras formas de ver as coisas, descobrimos o significado da palavra tolerância.” Isto significa que não existe verdade absoluta, mas sim diferentes versões nas quais as pessoas escolhem acreditar. Respeitar essa pluralidade é a melhor forma de se demonstrar a tolerância e o respeito aos outros.

E nós podemos nos ajudar a sermos uma pessoa mais tolerante e para isso precisamos desenvolver uma habilidade de muita importância, denominada inteligência emocional. E é por isso que quando uma pessoa pratica o autoconhecimento, ela além de passar, a saber, quem é realmente, por outro lado, consegue controlar melhor os seus sentimentos, entendendo a origem desses sentimentos e como poder utilizá-los da melhor maneira.

Quando se tem conhecimento de inteligência emocional a pessoa tem facilidade para respeitar as diferenças individuais e sabe como lidar com os conflitos do dia a dia.

E para atingir esse grau de maturidade uma das principais maneiras é a reflexão, que pode ocorrer por nós mesmos ou com o auxilio de algum profissional. Passarmos por um treinamento, que nada mais é, do que um estabelecer o foco no desenvolvimento humano.

Nesse processo o profissional, ou seja, o treinador atua como um facilitador na gestão, apoiando a pessoa para que ele entenda melhor quem é e, a partir daí, possa definir onde quer chegar.

Afinal, ser tolerante, significa então, ser capaz de tratar o semelhante com as diferenças, nas mais diversas áreas, procurando a certeza nas acções do dia a dia, o que realmente é muito relevante para o nosso convívio social.

Enfim, após todas estas considerações, ora tratadas, responda leitor as seguintes questões:
Você é uma pessoa tolerante?

Acha que tem facilidade para aceitar as opiniões das outras pessoas?

Tem a mente aberta para ouvir as outras pessoas pelo tempo que essas acharem necessário, ou se sente angustiada com o uso da palavra daquelas?

Neste pequeno questionário, para responder a primeira questão de forma positiva, para se sentir tolerante, somos, obrigatoriamente, tentados a responder também de maneira afirmativa e sem angústia as duas últimas questões. Mas, se respondermos, principalmente a terceira questão, de maneira negativa e angustiante, com toda certeza ainda não reunimos as qualidades necessárias e suficientes para sermos alguém tolerante. E, diante dessa situação, teremos que refletir bem sobre o assunto ora em baila, bem como nas suas ações praticadas no nosso quotidiano, para um dia, praticando rotineiramente esses exercícios, podermos alcançar a qualidade de alguém “tolerante”.

Bernardo José de Sales

Mestre Instalado, membro da ARLS Luz e Fraternidade n° 1636

 

Fonte: https://www.freemason.pt/