Esclarecendo dúvidas: Rito Moderno ou Rito Francês?
O apelido de “Grande Loja dos Modernos”, usado para referir-se à Grande Loja de Londres (documentalmente fundada em 1717), surgiu na Inglaterra nos primeiros anos da década de 1750. A terceira Grande Loja fundada (1751), que se autodenominava “dos Antigos”, usava o adjetivo “Modernos” de maneira pejorativa para classificar os usos ritualísticos da Grande Loja de Londres após 1730, quando, devido à publicação de Samuel Pritchard – “Masonry Dissected”, alguns elementos do ritual foram modificados por essa última.
Na França, desde 1725, há relatos de grupos maçônicos que, de uma maneira ou outra, estavam ligados à Grande Loja de Londres. Os grupos maçônicos franceses, como é óbvio supor, seguiam os costumes de sua Grande Loja mãe, a de Londres, e, após 1730, seguiram as modificações adotadas por ela.
Quando se estabeleceu um sistema oficial unificado de ritual para as Lojas Simbólicas francesas, sob a jurisdição do Grande Oriente da França (regular até 1877), o denominado “Sistema do Grande Oriente” era, nada mais nada menos que o “Rito dos Modernos”, ou seja, o rito usado pela Grande Loja de Londres (os “Modernos”). Daí nasceu o nome “Rito Moderno”.
Depois disso, aproximadamente duas décadas depois, em 1785, com a organização e síntese dos diversos Graus praticados na França (até então, de forma solta) em “Ordens Superiores” (que viriam a ser chamadas posteriormente de “Ordens Sapienciais”), e tendo em vista que tais Ordens tinham sido criadas para organizar a Maçonaria do Grande Oriente da França, nada mais natural que denominar o conjunto de “Rito Francês”.
Como fica claro nessas poucas linhas, a rigor, “Rito Moderno” é o que era praticado na França, nos Graus Simbólicos, tendo como base o rito da Grande Loja de Londres depois das modificações de 1730. Rito Moderno, portanto, é “stricto sensu” inglês em sua origem e adotado na França como o sistema oficial do Grande Oriente entre o final do século XVIII e o começo do século XIX.
O “Regulador do Maçom” de 1801, em seus Graus Simbólicos, traz poucas novidades em relação ao que se praticava na Grande Loja de Londres desde 1730.
As Ordens Superiores ou Ordens Sapienciais foram criadas na França, na década de 1780, tendo como base a síntese dos Graus ali praticados. Ou seja, são francesas de origem.
As duas sequências, a sequência dos Graus Simbólicos de origem inglesa e a sequência das Ordens Superiores de origem francesa formaram, até meados do século XIX, um todo harmonioso. Após o “Ato de União” de 1813 (que uniu as duas Grandes Lojas inglesas rivais) e a consequente extinção da Grande Loja de Londres (dos “Modernos”), tais usos e costumes se tornaram característicos da Maçonaria francesa sendo, portanto, comumente chamados de “Rito Moderno ou Francês”, apesar de, stricto sensu, não poder-se chamar de “Rito Moderno” às Ordens Superiores criadas na França.
Com o início das diversas reformas e deformas que o Rito iria sofrer a partir do século XIX, sobrou um, mutante e sempre em mutação, “Rito Francês”, que não era nem o Rito Moderno herdado da Grande Loja de Londres e nem o Rito Francês das Ordens Superiores redigidas por Roëttiers de Montaleau.
Acho curioso e engraçadinho quando ouço alguns maçons dizendo: “- Meu rito é o Francês mesmo! Traduzido direto do francês! Reconhecido pelo Grande Oriente da França”. Tenho vontade de perguntar a qual “Rito Francês” reconhecido pelo Grande Oriente da França o néscio se refere: o “Murat”? O “Amiable”? O “Blatin”? O “Groussier”? O “Guilly”?
O Grande Oriente da França, modificou, torceu, retorceu, despedaçou, reconstruiu e reescreveu seu “Rito Francês” algumas dezenas de vezes, mas, em geral, a pessoa que fala isso, conhece tanto do Rito Moderno e de sua história quanto eu conheço sobre construção de foguetes, e vai me dar tanto trabalho explicar tudo o que ela não sabe que prefiro balançar a cabeça e dar um sorrisinho.
O desconhecimento é, infelizmente, uma regra.
No Brasil há quem fale em “regularidade” do Rito Moderno utilizando rituais deformados e soltando “Carta Patente” para Grande Loja Mista… Por aí já se vê a quantas anda o “conhecimento” desse pessoal.
André O. A. Muniz
Grande Secretário Geral de Educação, Cultura e Ritualística
Supremo Conselho Filosófico do Rito Moderno do Brasil
Originalmente publicado em https://ritoserituais.com.br/