Crises e significados
Nunca vi tanto a palavra crise nos jornais. Crise financeira, econômica, política, de liderança e por aí vai. Mas o que significa a palavra crise? No dicionário, vamos encontrar que as crises se revestem de uma conjuntura perigosa, ou então que envolvem perturbações que obrigam uma instituição a mudar. Ao buscarmos uma explicação técnica, uma crise significa um evento de baixa probabilidade e grandes impactos, que ameaça a viabilidade de uma organização e é caracterizado por ambiguidade de causas, efeitos e meios de resolução.
Esta definição nos mostra que todas essas crises que estamos vivenciando, aparentemente diferentes entre si, possuem uma característica em comum: a presença de incertezas. Tais incertezas demonstram a dimensão subjetiva das crises, pois todas elas envolvem a construção de significados. Isto quer dizer que as pessoas iniciam uma busca cognitiva pela compreensão do problema e pela construção de alternativas para a sua solução. Este é um trabalho de muita reflexão e natureza intelectual, qual seja, buscar a interpretação dos fatos mais coerente à nossa percepção, e, posteriormente, apresentar a nossa posição.
Os fatos recentes do Brasil, aliados à transparência de opiniões nas redes sociais, ilustram claramente esse processo. O país presencia, além das crises noticiadas, um embate de significados e interpretações. Duas correntes antagônicas despontam em todos os meios de comunicação. Enquanto algumas pessoas defendem a injustiça de um golpe, outras argumentam a legitimidade constitucional. Enquanto uns defendem a existência de crime de responsabilidade, outros advogam que ele, de fato, não ocorreu. E assim caminha a gestão de mais uma crise, por meio da construção de seus significados.
O importante neste processo é a avaliação isenta de todas as interpretações apresentadas, a fim de que as decisões tomadas para a solução da crise sejam as melhores e mais abrangentes possíveis. Afinal, como dizia Mark Twain, o que nos causa problemas não é o que não sabemos. É o que temos certeza que sabemos e que, no final, não era verdade.
Rodrigo Antônio Silveira dos Santos
Diretor e engenharia de produção e professor.
Florianópolis
Fonte: Diário Catarinense.