Amor é uma palavra de quatro letras
Amor é uma palavra de quatro letras, mas você não a ouve com tanta frequência quanto ouve outras palavras de quatro letras.
Pode ser um sinal dos nossos tempos que todos parecem estar falando abertamente sobre sexo, mas parecemos nos constranger ao falar sobre amor. Sexo, sozinho, nem mesmo seria capaz de reproduzir a raça humana porque os bebês não podem sobreviver à primeira semana de vida sem quantidades incríveis de cuidado. E esse cuidado vem do amor.
Se os pais são muito miseráveis para dar ao bebê a atenção que ele precisa, então, um amor geral por bebês levará outras pessoas a estabelecer algum sistema de apoio, para que a criança não morra por negligência.
As pessoas superficiais que transformaram nossas escolas em centros de propaganda para a contracultura se esforçam para tirar o amor das relações humanas.
Entre homens e mulheres, por exemplo, há apenas sexo, se você acreditar nos espertos ungidos. Mas por que deveríamos acreditar neles? Por que houve tantos lamentos dolorosos — em cartas, literatura, poesia e música — por tantos séculos sobre o rompimento de relacionamentos amorosos?
Por que não há outros membros do sexo oposto disponíveis? De modo algum. Sexo está quase sempre disponível, mesmo que apenas comercialmente. Mas o amor é muito mais difícil de encontrar. Algumas pessoas nem sequer tentam depois que seu amado se vai. Algumas desistem da vida. Em suma, o que milhões de pessoas fizeram por centenas de anos desmente os cínicos autossuficientes que querem reduzir tudo a um nível animal. Na verdade, muitos animais se comportam de maneiras que sugerem que o amor é importante para eles, não apenas entre sua própria espécie, mas também com os seres humanos.
Histórias de cães que resgataram ou defenderam seus donos, mesmo com o custo de suas vidas, remontam a séculos. Por que o amor está tão fora de moda entre os intelectuais e outros que se esforçam para estar "na onda"?
O amor é um dos laços que permitem que as pessoas funcionem e que as sociedades prosperem — sem serem dirigidas de cima. O amor é uma das muitas maneiras pelas quais influenciamos uns aos outros e trabalhamos nossas vidas inter relacionadas sem a ajuda dos ungidos.
Como a moralidade, lealdade, honestidade, respeito e outras coisas imateriais, o amor é um dos intangíveis sem os quais os tangíveis não funcionam. Os intelectuais não se sentem confortáveis com isso. Eles querem ser capazes de reduzir tudo a algo material, previsível e — acima de tudo — controlável. Muitos querem estar no comando de nossas vidas, não deixar que resolvamos as coisas entre nós, seja através de laços emocionais ou das interações do mercado.
Outra palavra de quatro letras que caiu em desuso é "dever" (duty). Não foi banida. Apenas foi enterrada sob toneladas de discussões sobre "direitos".
As duas palavras costumavam estar ligadas, mas não mais. No mundo real, no entanto, direitos e deveres estão tão intimamente ligados quanto sempre estiveram. Se A tem direito a algo, então B tem o dever de garantir que ele o obtenha. Caso contrário, A não tem tal direito. Quando é um direito à liberdade de expressão, então é dever dos juízes impedir que o governo o cale — ou permitir que ele processe se o fizerem.
O grande problema surge quando não é mais uma questão de direitos de ser deixado em paz, mas de direitos a coisas que outras pessoas têm que produzir. Quando é um direito a "moradia decente", por exemplo, isso significa que outras pessoas têm o dever de produzir essa moradia e fornecê-la a você — quer você esteja disposto a pagar o que custa ou não. Apenas porque a ligação inerente entre direitos e deveres é quebrada verbalmente, os defensores de todos os tipos de novos direitos abrangentes conseguem evitar a questão de por que alguém deve fornecer a indivíduos o que eles não estão dispostos a fornecer para si mesmos. A alegação é frequentemente feita ou implícita de que as pessoas podem estar dispostas a fornecer para si mesmas, mas são simplesmente incapazes de fazê-lo.
Mas, quando chega a hora, muitos dos intelectuais admitirão que não importa para eles por que alguém não tem algo de que precisa. Ele tem um "direito" a isso. Também não importa como alguém contraiu uma doença, ele não tem o dever de evitá-la, mas os outros têm o dever de pagar por isso. O que está envolvido não são apenas algumas palavras, mas toda uma visão de vida. Se alguém tem a visão dos ungidos que querem controlar a vida de outras pessoas, então todas essas coisas que nos permitem funcionar independentemente deles e dos programas governamentais são suspeitas.
Palavras de quatro letras como amor, dever, trabalho (work) e poupar (save) são características de pessoas com uma visão muito diferente, que fazem seu próprio caminho na vida sem fazer parte de algum esquema grandioso dos ungidos ou das burocracias governamentais que administram tais esquemas. Não é de se admirar que essas palavras não sejam tão populares quanto outras palavras de quatro letras.
Thomas Sowell