9 de julho: Epopeia Paulista
“Aos épicos de Julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores – os que
houveram as terra e as gentes por
sua força e fé – na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé.”
Guilherme de Almeida
Sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, irradiada de São Paulo, muita coisa poder-se-ia dizer. Apesar de passados tantos anos, esse movimento ainda provoca polêmicas. As causas e as razões mudam, de acordo com o ponto de vista de quem tenta escrever a História. Entretanto, uma coisa é inquestionável: a guerra foi deflagrada contra aqueles que, depois da Revolução de 30, queriam servir-se dela para perpetuarem no poder.
Os paulistas ficaram decepcionados com os rumos da Revolução de 30, que fez com que a desordem administrativa e o fortalecimento central imperassem, prejudicando a autonomia do Estado. Havia, ainda, o agravamento da crise econômica, que veio se somar às agitações proletárias e a humilhante ocupação militar.
Ao contrário do que se apregoou na época (e que muitos ainda, infelizmente, repetem) não foi um movimento separatista. Naqueles dias, sob a ditadura de Getúlio Vargas, o tema foi intensamente explorado pelo Governo Federal para obter os reforços e coesão dos demais Estados contra São Paulo.
O estopim da mobilização popular foi a missão de Oswaldo Aranha, que em Maio de 32 foi incumbido de promover a reforma do secretariado de Pedro de Toledo, então interventor de São Paulo. Essa medida foi tida como intromissão na vida política paulista. O povo é convocado para manifestar-se na Praça do Patriarca no dia 22 de Maio. Após alguns discursos, a massa humana se inflama e rompe-se a passeata. O exército promete não atirar contra o povo A marcha segue para o bairro da Luz e a cavalaria, na tentativa de dispersar a multidão, deixa alguns feridos. O conglomerado segue, então, para o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo estadual, e pressiona o interventor Pedro de Toledo. Este pede vinte e quatro horas para resolver a questão a contento.
No dia seguinte, 23 de Maio, demonstrando sua insatisfação com a demora em solucionar o problema, o comércio cerra as portas. Novamente, o povo vai postar-se defronte ao Palácio e, inteirando-se das liberações lá tomadas, ruma para o centro. No caminho jornais simpatizantes à ditadura são empastelados. A sede do Partido Popular Paulista, que apoiava o Governo Federal, que ficava na praça da República, é atacada. Há revide com disparos de tiros contra a multidão. Vários manifestantes são atingidos e morrem Mário Martins Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes Souza e Antônio Américo Camargo Andrade. Com as iniciais desses quatro heróis compõem-se o MMDC, entidade que passou a congregar todas as organizações civis e secretas para combater a ditadura. O movimento, estrategicamente, armado estruturou-se através de uma central secreta.
Muitos alegam que nessa homenagem aos heróis, foi esquecido o nome de um mineiro de Muzambinho, Orlando Oliveira Alvarenga, e, que a sigla deveria ter sido MMDCA. Alvarenga foi gravemente atingido por metralhadora no mesmo embate; socorrido pelo acadêmico Silveira Peixoto, foi conduzido a um consultório médico e, de imediato, transferido para o Hospital Santa Rita, vindo a falecer após meses de a atroz sofrimento. Quando da formação da sociedade, somente Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo haviam falecidos.
O MMDC conclamou o povo conseguindo sensibilizar o opinião pública. A bandeira MMDC mexeu com o brio dos paulistas dando-lhes coragem para mobilização geral para pegar em armas e lutar por um direito, lutar pela Constituição do Brasil.
Às 11:40h do dia 9 de Julho de 1932, um sábado, estourava a revolução armada sob a direção militar do coronel Euclides Figueiredo. A coordenação civil, inclusive os trabalhos de retaguarda, esteve sob a orientação da Maçonaria que, entre os seus membros, contava com personalidades proeminentes da política, indústria, comércio e imprensa.
As emissoras de rádio exerceram papel político preponderante, jamais visto no Brasil. E houve um locutor que se destacou como porta-voz do movimento: César Ladeira. Como o Estado de São Paulo não possuía um hino, César Ladeira começou a tocar o dobrado “Paris-Belfort”, que havia sido criado na França, quando da Primeira Grande Guerra Mundial, com objetivo ufanista. O dobrado “Paris-Belfort” acabou tornando-se hino de guerra de São Paulo e um dos símbolos da Revolução Constitucionalista.
Menos de três meses duraria a revolta, mas o bastante para mostrar uma sucessão de lances heróicos, de abnegação e táticas desesperadoras diante da maioria numérica do inimigo. Soldados, precariamente armados, enfrentando com inaudita coragem os aviões do ditador, revelaram o indômito espírito paulista e a glória de combater pelo Brasil ! Apesar do prometido apoio de outros Estados, São Paulo ficou sozinho e não conseguiu avançar além da divisa com o Rio de Janeiro.
Há que se destacar a participação da Mulher Paulista nesse importante acontecimento histórico. As virtudes cívicas e morais da Mulher Paulista, reveladas nos três meses da Revolução Constitucionalista foram de grandeza e esplendor, tendo sido o verdadeiro esteio desse movimento admirável e arrebatador. Ela também ajudou a escrever páginas brilhantes e inesquecíveis da campanha Constitucionalista, dando provas diárias, como os homens, de devotamento e dedicação.
Em 1° de Outubro, sábado, celebrou-se a Convenção Militar, e a Força Pública do Estado de São Paulo, obediente, deixou as trincheiras, obrigando a cessação da luta armada.
A amargura da derrota, nas armas, foi transformada em júbilo de vitória quanto aos objetivos: Os vencidos obrigaram os vencedores à convocação da Assembleia Constituinte. Houve fugas, prisões e exílio, mas o movimento tornar-se-ia, moralmente, vencedor. Os paulistas não tinha lutado em vão.
A Revolução Constitucionalista de 1932, ainda que derrotada no campo de batalha e a despeito das controvérsias que, ideologicamente, possa provocar, foi, sem dúvida, o maior, o mais importante e o mais espontâneo movimento cívico ocorrido no Brasil !
Bibliografia:
Donato, H. - A Revolução de 32
Rodrigues J. - A Mulher Paulista no Movimento Pró Constituinte
Coleção Nosso Século - Abril Cultural
D. O. Leitura - Junho ’92
O Globo - 07.07.82
O Estado de S. Paulo - 09.07.82
Jornal da Tarde 08.07.82
E. Figueiredo – é jornalista – Mtb 34 947 e pertence ao
CERAT – Clube Epistolar Real Arco do Templo/
Integra o GEIA – Grupo de Estudos Iniciáticos Athenas/
Membro do GEMVI – Grupo de Estudos Maçônicos Verdadeiros Irmãos/
Integrante do Grupo Maçonaria Unida
Obreiro da ARLS Verdadeiros Irmãos – 669 – (GLESP)