A vida precisa de recomeços.

Vivemos numa constante síndrome de fênix, renascendo a cada ano, a cada nova semana, a cada nova fase. Criando novas sensações e novos significados cada vez que nos deparamos com os mesmos impasses, para encontrar nosso lugar no mundo e fazer da nossa vida a melhor que poderíamos ter.

A vida é feita de ciclos, uns mais longos e tranquilos, outros curtos e intensos, alguns contínuos, outros que vão e vêm. E a gente aguarda ansiosamente a nova semana, o novo mês, um novo ano novinho pela frente. Para que tudo recomece, e recomece melhor. Como uma nova oportunidade de, desta vez, fazer diferente. Ou de viver tudo de novo.

A gente precisa desse recomeço constante para impulsionar a vida. O que é novo nos encanta, abre janelas por onde entram feixes de luz e esperança, acompanhados daquele friozinho na barriga. Agora vai!

Encerrar ciclos e iniciar novos faz parte do nosso crescimento. Entre ganhos e perdas, lutas e rotinas, esperamos por um certo renascimento constante. Tipo a fênix, o pássaro da mitologia grega que morre e retorna das cinzas renovada.

Tudo no mundo é guiado por ciclos, as estações nos trazem e nos tiram certos prazeres a cada ano. Aqui no Sul do Brasil onde eu moro, mais do que em outros lugares, as estações bem definidas nos definem também no tempo. Nos proporcionam condições e sensações únicas a cada quarto de ano as quais procuro aproveitar ao máximo antes que se dissipem. Depois só no ano que vem. E essa certeza nos conforta, a espera recomeça, e entra um novo clico com uma nova atmosfera no ar.

Em sua teoria do Eterno Retorno, Friedrich Nietzsche fala dos ciclos repetitivos da vida. Ele sugere que estamos sempre presos a um número limitado de fatos que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro uma vez que o tempo é infinito e as combinações de forças em conflito que formam cada instante, finitas. E questiona se não seria torturante uma vida assim.

É realmente notável como a vida se reitera ano após ano, tão igual, mas ao mesmo tempo tão diferente. Às vezes parece tudo tão novo, novas emoções, novos amigos, novas aventuras e desafios. Noutras, que tudo invariavelmente se repete. Isso porque a vida se reinventa a cada nova fase. A grande certeza é de que nada é sempre ruim, ou sempre bom. E esse bom e ruim são sempre inconstantes, sempre mutantes. Vêm em níveis e depois passam.

Depois a gente ri do que parecia péssimo, e nem tem tanta saudade do que foi um dia uma felicidade plena. Às vezes, lembramos do quanto eramos felizes e não sabíamos, tão absortos na felicidade que nem notávamos. Tudo muda e, quando volta, volta diferente. Quando volta, a gente já está diferente. A grande sacada é construir um novo pensar para coisas já existentes, buscando novas formas e ângulos para as mesmas paisagens e situações. Aí se dá o verdadeiro amadurecimento.

O novo sempre é fonte de medo e insegurança, mas também de renovação. Cada vez que adentramos um novo ciclo, sofremos uma transformação, sentimos um pouco diferente, percebemos nuances antes ignoradas, aprimoramos nossa experiência no mundo. Enxergamos com outros olhos as mesmas coisas, ou vemos o quanto tudo mudou. Ressignificamos momentos e lugares. A cada nova etapa, uma nova oportunidade de refazer a história, de melhorar um pouco os detalhes que podem gerar uma diferença imensa no final.

Lucia Righi
jornalista.

publicado em recortes por Lucia Righi.