A Tolerância, desde Voltaire ao Brasil de hoje.

François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694 -1778), foi um escritor e filósofo iluminista, tendo produzido cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatropoemas,romancesensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de dois mil livros e panfletos.

O conjunto de ideias de Voltaire constituiu uma tendência de pensamento conhecida como Liberalismo, pois introduziu várias reformas na França, como a liberdade de imprensa e a redução dos privilégios da nobreza e do clero.

Foi, também, pregador da tolerância, especialmente religiosa, em seu Tratado sobre a Tolerância, de 1793. Mas, apesar disso, foi precursor da Revolução Francesa, ela que instaurou a intolerância, a censura e o aumento dos impostos para financiar as guerras, tanto coloniais, quanto napoleônicas.

Usando uma das muitas e conhecidas frases de Voltaire, “Meu oficio é dizer o que penso”, tomo a ousada liberdade de fazer considerações sobre a tolerância, a saber:

A palavra “intolerância” não tem essa carga emocional negativa que, especialmente os esquerdistas brasileiros, dão, pois se consideram tolerantes. Acham que malfeitores são apenas vitimas da sociedade; defendem o utópico e irrealista Estatuto da Criança e do Adolescente, pois nem querem ouvir falar em redução da idade penal, pela qual clama sociedade brasileira, exausta de tanta maldade infanto-juvenil; acham que índios, mesmo de calças e tênis Nike, são alienados, e podem estuprar mulheres em churrascos, matar agricultores e cobrar pedágios em estradas federais...

Mas são intolerantes com respeito aos que pensam diferentemente. Na sua eterna metamorfose ambulante, eufemismo de desfaçatez, são, nada mais, do que tolerantes intolerantes!

Em favor da intolerância, porém, podemos dizer que: para termos educação, temos que ser intolerantes com a deseducação ou a ignorância; para termos decência moral, é preciso ser intolerante com a indecência moral; para termos decoro, especialmente o público, é preciso ser intolerante com o indecoro; para termos riqueza, é preciso ter intolerância com a miséria; para sermos caridosos, é preciso ser intolerante com o egoísmo; para sermos intolerantes com o racismo, não devemos comer a banana, mas prender e punir o racista, etc, etc, etc.

Não há dúvida que o atual e lamentável estado das coisas no Brasil ocorre pela tolerância, especialmente a ideológica do partido governante. Por que essa tolerância com bandidos, assassinos, estupradores, corruptos públicos e privados, menores e índios infratores? Por que essa tolerância com movimentos sociais que ocupam, depredam, e queimam a propriedade pública e privada? Por que essa tolerância com Black blocs, que matam cinegrafistas?

Por que essa tolerância das agências reguladoras do Governo com empresas comerciais, de planos de saúde, de telefonia, bancos, Cias aéreas, etc, etc, etc, que desrespeitam direitos dos consumidores? Por que a aceitação dessas leis frágeis, e dessa Justiça, pia e caridosa (lembram-se de um ministro do STF ter dito que o “mensalão foi apenas um ponto fora da curva”....?)? E mais, sabemos bem, muito mais, não só pela ação como pela omissão populista!

Voltaire também disse que “A primeira lei da natureza é a tolerância – já que temos uma porção de erros e fraquezas”. Já pensaram se tolerarmos essa epidêmica corrupção e violência brasileiras e as considerarmos apenas como erros e fraquezas?

Como alguém já disse muito bem que “Um conservador é um progressista que foi assaltado pela realidade”, podemos epigrafar dizendo que “Um intolerante é um tolerante que foi assaltado pela realidade”. Mas, a turma que está aí, tolerante, nunca é assaltada, pela realidade, mesmo que o seja, pelos bandidos, que não escolhem ideologia...

Quando, no Primeiro Mundo, se cunha o termo ”tolerância zero”, isso significa apenas intolerância a quem afronta a lei e a ordem, permanecendo a tolerância à opinião, às paixões, às preferências pessoais, sejam ou não religiosas, e às escolhas, como é regramento nos estados democráticos de direito.

É isso que queremos, mas não temos. A ideologia do partido no governo, tolerante, não quer.

Por isso, é lá, e não aqui, onde realmente há Ordem e Progresso...

* Luiz Sérgio Silveira Costa é Almirante, reformado.

Originalmente publicado no Alerta Total – www.alertatotal.net

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