A Perfeição necessária.

     Quando ainda muito jovem trabalhei em algumas fábricas como operário de produção. Operei tornos, furadeiras, fresas e outros tipos de engenhocas que faziam peças para máquinas de costura, teares, radiadores etc. A cada duas ou três horas, um indivíduo passava pela minha máquina e ficava medindo com um calibre as peças que eu fabricava. Era o inspetor de qualidade. Esta passa, esta não passa, esta passa, esta não passa... Quando começava a aparecer uma quantidade considerável de peças refugadas era hora de parar a máquina e ver o que estava errado nela.
      Bom seria se pudéssemos fazer um controle de qualidade assim com os produtos da nossa mente. Dizer, isso passa, isso não passa; isso passa, isso não passa... Mas tal controle não é possível, até por que o cérebro não é uma máquina que possa ser programada dessa forma. 
Não obstante, já que não podemos ter um controlador de qualidade dos nossos produtos mentais, há algumas providências que podemos tomar para dar uma ajustadinha na nossa máquina mental, de forma a fazê-la produzir pensamentos ( e pensamentos geram sentimentos e comportamentos) de melhor qualidade. Essas providências podem ser resumidas nos seguintes pressupostos:  1 ) descubrir o que funciona para nós e aperfeiçoar essa função até o limite máximo da excelência; 2) descubrir o que não funciona conosco e ir mudando o jeito de fazer, até conseguir o resultado. 
     É simples. Tudo se resume em descobrir no que nós somos é realmente bons. Todo mundo é muito bom em alguma coisa. Isso é o que chamamos de dom. Todo mundo tem um. Qualquer coisa que a gente saiba fazer muito bem serve de parâmetro. Costurar, cozinhar, jogar bola, falar em público, escrever poesia, desenhar, calcular, jardinar, advogar, atuar num palco, construir casas, fabricar móveis, etc. Então é isso. Aperfeiçoe sempre e sempre a sua habilidade até conseguir fazer uma diferença entre o que você faz e os outros que exercem a mesma habilidade fazem. Nesse delta, nesse diferencial, está o segredo do tão sucesso.
 
     É claro que não basta ter uma única habilidade, aperfeiçoada ao máximo da excelência, para fazer uma diferença verdadeira e duradoura. Não são todas as pessoas que sabem fazer uma coisa muito bem feita que conseguem saber valer essa sua habilidade para ganhar mercado. Isso porque toda habilidade é um produto. Precisa ser bem vendida. E não é todo mundo que sabe vender. 
     Saber vender é um aprendizado que todo mundo deveria adquirir. E que ninguém diga que não tem aptidão para isso. Todas as coisas que não sabemos podem ser aprendidas até o limite máximo da perfeição necessária. Isso é importante. Falamos perfeição necessária. Isso quer dizer que não é preciso trabalhar com um ideal inatingível que está no plano dos conceitos e não no território das realidades palpáveis.  Perfeição, aqui, quer dizer atingir um resultado positivo, e não um recorde insuperável. 
    E isso é perfeitamente possível. O que não deu certo desta vez? É só mudar a variável e tentar de novo. Não atingiu ainda o resultado? Mude outra vez o jeito de fazer. Vá mudando até conseguir o resultado desejado. Essa é uma boa receita para o sucesso: o que já faz muito bem, você aperfeiçoa; o que ainda não sabe, vai aprendendo a fazer até chegar num resultado que lhe sirva. 
    Mais do que isso é utopia de perfeccionista. E para esses, o resultado é quase sempre culpa, estresse, mau humor, desconsolo, náusea de viver. Por que, para gente assim, nada jamais estará verdadeiramente bom. A Bíblia diz que Deus, quando terminou de fazer o mundo ele olhou para o que tinha feito e disse que tudo estava muito. Bom é o suficiente. Muito bom, se for possível, é melhor. Perfeito, nem Deus disse que queria. Então só precisamos da perfeição necessária. E ela é atingida quando conseguimos o resultado desejado. Mais do que isso é pura insegurança.

* João Anatalino Rodrigues

Originalmente publicado em www.joaoanatalino.recantodasletras.com.br