A Maçonaria em construção - considerações
Recebi duas breves mensagens do mestre Tertuliano contendo a gentileza de comentar as duas primeiras partes do texto “A Maçonaria em construção”. Na primeira, o Mestre Tertuliano afirma que os conceitos guias apresentados no texto para a formação inicial de maçons são necessários à formação de cidadãos em geral. Na segunda, o mestre Tertuliano chega mesmo a afirmar que o modelo, criado para representar a formação de maçons, é válido e útil para a formação de organizações em geral, como sindicatos, partidos políticos e grupos religiosos. Estes comentários me estimularam a destacar a estrutura do texto, acompanhando as observações feitas pelo Mestre Tertuliano.
O mestre Tertuliano tem o dom de revelar de forma direta a estrutura complexa das coisas. Os seus breves escritos lembram-me os textos de Claude Lévi – Strauss sobre a Antropologia Estrutural.
O texto é constituído de três partes, cada com apenas duas laudas. Cada parte apresenta quatro conceitos. Os primeiros três ‘conceitos guias’ de cada parte são: conhecer a si mesmo, conhecer o outro e conhecer a Deus. Seguem-se os conceitos relativos ao aceitar tal conhecimento: aceitação do si mesmo revelado pelo conhecimento, aceitação do outro revelado pelo conhecimento e aceitar a Deus após conhecê-lo.
As conseqüências esperadas em face desta atitude de aceitação são: confiança em si mesmo, confiança no outro e confiança em Deus. E finalmente: desapego das imagens, das projeções e dos ídolos, fidelidade ao outro conhecido e participação no amor de Deus.
Uma mudança no terceiro sujeito pode de fato levar ao modelo sugerido pelo mestre Tertuliano. Por exemplo, basta substituir a palavra Deus pela palavra Organização e fazer pequenas adaptações gramaticais para surgir: Conhecer, Aceitar, Confiar e Participar da Organização.
Façamos, por exemplo, a substituição do terceiro sujeito pela palavra Maçonaria. Assim o grau de mestre passaria a se constituir em conhecer, aceitar, confiar e participar da Maçonaria.
De fato, podemos observar que alguns obreiros colados no grau de mestre parecem ter cometido este desvio. Assim como alguns fiéis têm trocado a adoração a Deus pela a adoração a Igreja da qual fazem parte. E participam da Igreja na ilusão de participar do corpo místico do Cristo.
Isto se dá em parte pela forte presença da organização na vida concreta do obreiro. Portanto, se revelando como uma imanência. Como, também, se dá devido à natureza simbólica da organização. Portanto, se revelando como uma transcendência. A Maçonaria transcendendo o entendimento do obreiro, embora ele seja a maçonaria viva. Isto leva a um equívoco semelhante aquele do fiel que se liga bravamente a Igreja ordenadora da sua profissão de fé na ilusão de está com isso se religando a Deus. Este desvio traz uma conseqüência terrível. O esforço do obreiro passa a está focado no liga-se a organização, quando deveria está focado no liga-se a Deus. Dando motivos alados à imaginação daqueles que vêem a Maçonaria como uma tentativa frustrada de religião universal.
Há também a possibilidade de substituir o terceiro sujeito pela palavra conhecimento. Assim o grau de mestre passaria a se constituir em conhecer, aceitar, confiar e participar do Conhecimento. Conhecimento revelador dos mistérios maçônicos.
Por mais tola que esta hipótese possa parecer ela é vivida por muitos mestres maçons. É fácil observá-la viva nas mensagens de alguns “veneráveis” mestres em que a falta de tolerância ao contraditório é alarmante.
Também, podemos observar nos fóruns maçônicos existentes na web, no escrever com letras maiúsculas – tome letras grandes para quem não vê. Equivalente a gritos no mundo sonoro – ou na presença do excesso de pontos de exclamação.
É doloroso, mais é um fato, a existência de nobres senhores repletos de conhecimentos e carentes de um mínimo de sabedoria. Lembra os fariseus exigindo de Jesus a demonstração de que fosse possuidor da verdade – “Salva a ti mesmo”. Não tinham olhos para simplesmente vê que Jesus não possuía a verdade, o que ele revelava era a absoluta verdade da sua própria presença e fé – “Pai, nas tuas mãos coloco a minha vida”.
Há o que acrescentar?
Hiran de Melo
Oriente da Paraíba