A LIBERDADE E A VERDADE
Na filosofia maçônica temos preceitos e normas disciplinares que tendem a regular o critério dos indivíduos para que eles não se percam em um mar de confusões e possam fazer suas exposições o mais claramente possível; com base nos conceitos anteriores, estou me permitindo fazer uma transcrição de um deles, que me servirá como prelúdio para o trabalho medular que coloco em sua consideração e bom entendimento.
Este pensamento é: "Para raciocinar é indispensável e condição necessária a definição dos termos, pois caso contrário nosso raciocínio seria confuso e não chegaríamos a uma conclusão lógica e verdadeira”.
Como claramente pode ser avisado, se entendermos a sentença anterior, que para falar de qualquer assunto é necessário conhecê-lo com propriedade a fim de expô-lo com toda a veracidade e, além disso, que saibamos definir os termos ou as palavras que vamos usar para que possamos entender o que queremos dizer. Pois bem, correndo o risco de não expressar claramente o que entendo sobre o tema que pretendo esboçar, permita-me em primeiro lugar, definir os conceitos que usarei neste trabalho:
LIBERDADE.- Poder de agir ou de não agir, ou de escolher, direito que se toma.
TRILOGIA.- Conjunto de três obras dramáticas cujo tema tem uma certa ligação entre si
AUTOCRACIA.- Governo em que um único homem reúne todos os poderes (ditadura).
AUTOCRATA.- Pessoa que exerce autoridade ilimitada.
ESSÊNCIA.- O que constitui a natureza de uma coisa.
COSMOS.- O mundo, o universo
EGIDA.- Proteção de defesa.
PSICOLOGIA.- Parte da filosofia que trata da alma, suas faculdades e operações.
A trilogia maçônica, base e essência de uma das mais antigas instituições que perduraram ao longo do tempo, apesar dos ataques a que foi submetida, está cimentada e constituída sob a égide da LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE.
Nesta noite desejo falar apenas da LIBERDADE e em outra ocasião, se as circunstâncias forem propícias para mim, tentarei complementar este traçado abordando as outras duas questões.
Demos a conhecer o significado tradicional da palavra LIBERDADE e está assentada como “O PODER DE AGIR OU DE NÃO AGIR, OU DE ESCOLHER; DIREITO QUE SE TOMA”. No entanto, neste assunto tão macabro chegaremos a uma das opiniões mais antigas e debatidas que derramam, a título de interrogatório, a religião, a política e a psicologia e é esta: O homem é uma alma livre, um ser livre, um pensador livre?
Aqueles que respondem a esta pergunta, o fazem com duas crenças opostas entre si; Há aqueles que clamam e pregam abertamente que o homem é LIVRE no pensamento, na ação e igualmente na existência. Há outros que acreditam que o homem NÃO É LIVRE, QUE É UM ESCRAVO do fanatismo, das circunstâncias, do seu ambiente, e igualmente escravo de Deus e de seus ditames.
Afastando-nos completamente dessas opiniões tão definidas e particulares, é necessário que retrospectiva e internamente façamos uma análise serena de qual é a nossa própria condição e determinemos por si mesmos, se somos homens livres ou somos subjugados. Só assim, tentando esclarecer internamente nosso pensamento e expressando nossas opiniões sobre este assunto, é como poderemos realizar completamente o que acreditamos no passado sobre o debatido ponto da LIBERDADE, para chegar à melhor compreensão.
O homem não nasceu nem livre nem escravo. O homem nasce essencialmente sem escolha, mas com a capacidade de escolher para ser livre ou escravo. Mas desde o exato momento de seu nascimento, essa condição começa a se modificar. Enquanto criança, o homem é escravo das regras autocráticas e ditadas de duas mentes: a mente humana dos pais e a mente cósmica, ou como é comumente chamada, as leis da natureza. A regularidade com que a criança de condições normais se alimenta, dorme, seu coração, intestinos e outros órgãos funcionam, prova que alguma lei suprema da Natureza está dirigindo autocraticamente seus assuntos. Por outro lado, os pais, no entanto, também exercem uma influência autocrática dirigindo ou escolhendo quais alimentos devem ser comidos, quando a criança deve tomar banho, onde deve dormir e outros aspectos da vida da criança. Tudo isso deve nos provar que o homem, sendo uma criança de poucos meses de idade, é um ESCRAVO da autocracia tanto interna quanto externamente. Mas, à medida que a criança cresce, dia a dia, começa a exercer de várias maneiras seus poderes e faculdades de escolha; se manifesta na seleção ou preferência de certos alimentos, de certos períodos de sono, certas posições de seu corpo ao dormir e outros aspectos de sua vida.
Alguns princípios da Psicologia referem-se ao desenvolvimento gradual da criança, desde a não escolha até a liberdade de escolher algumas coisas e essas mudanças aumentam ou modificam a cada semana; preferem a cor vermelha a qualquer outra cor; gostam de objetivos brilhantes e brilhantes a opacos ou escuros; gostam mais do movimento do que da imobilidade; etc.
Assim vemos que a criança, nas diferentes etapas pelas quais passa, exerce uma preferência ou seleção por certas coisas e, além disso, seu poder voluntário para pedir o que escolhe ou o que acha que prefere, fazendo abstração absoluta dos desejos muito particulares de seus pais.
Depois vem o período de desenvolvimento daquilo que o indivíduo chama de seu direito de pedir e selecionar. Tornando-se mais tarde um adulto, ele chega ao que seria chamado de agente livre, com o direito, poder e faculdade para escolher ou rejeitar, para pedir ou aceitar, para agir; isso é o que poderíamos chamar de pensamento livre em sua análise final.
Devemos considerar que as ideias e preferências vêm do exterior ou de nosso interior e constituem orientações ou impulsos em nossa mente; e se admitirmos esses impulsos provamos com isso que temos a liberdade de escolha entre impulsos de várias classes, mas permanecemos escravos -verdadeiros escravos- dos impulsos e desejos.
Dado que o homem tem a faculdade de raciocinar de modo que possa fazê-lo considerando os impulsos e fazer a devida escolha, devemos ter cuidado para que nossas decisões não sejam baseadas nas vozes do exterior, pois devemos lembrar que fomos educados apenas em aspectos materiais e até falsamente, sendo, portanto, um escravo do materialismo e não o agente livre que pensa que é.
Se admitirmos que o ser humano é essência ou faísca do Grande Arquiteto do Universo e somos microcósmicos dessa Inteligência Suprema, devemos confiar em nossa própria mente e não nos desviar dessa inteligência que internamente temos.
Para ser um verdadeiro agente livre, não nos apoiemos nos raciocínios que nossa mente objetiva nos dita, pois poderíamos incorrer em apreciações e decisões errôneas; devemos antes de tudo, fazer uma seleção rigorosa de nossos impulsos e desejos e determinar, em certos momentos, se a seleção que fizemos se deve ao resultado da recomendação de alguma pessoa ou estado passageiro ou se esta vem de dentro como intuição ou "conselhada".
Para nos conhecermos e saber definitivamente se somos capazes de usar a liberdade de pensar e escolher, façamos nossas seleções de critério usando a orientação de nosso ser interno que só ele é capaz de nos conduzir para o objetivo supremo da LIBERDADE E VERDADE individual absoluta.
Apolinar Saldivar Garza