A Beleza e a Força como caminhos.

Eu não ouvi muito bem o que ele dizia durante o seu discurso, mas enquanto falava, nas palavras que eu consegui compreender, lembro-me de ter ouvido “caminho da beleza, caminho da força”, isto tudo entre citações de momentos do seu dia-a-dia. No entanto somente o que ouvi foi capaz de me desconcertar de certo modo, e me fazer pensar em qual caminho mais trilhamos.

Não foi difícil perceber que o caminho da beleza tem sido o mais perseguido, sobretudo por ser aquele em que se vive do transcendente, do belo da vida, daquilo que encanta e vislumbra, e nos insere em uma espécie de leveza. O caminho da beleza é esse pelo qual a maioria de nós procura o descanso, porque tem o surreal, o intangível, o entretenimento.

Mas o caminho da força, aquele que nos leva pela realidade, é inevitável. Nenhum ser humano que viva para evitar a realidade, a dureza do cotidiano, as dores superáveis ou insuperáveis da vida, pode descobrir a vida boa, ou, como se prefere chamar, a vida feliz. A realidade é essa que exige de nós o confronto do cotidiano, não somente com aquilo capaz de gerar qualquer sensação de bem-estar, mas toda e qualquer ocorrência, inclusive daquilo que vive e se expressa em nós mesmos, em outras palavras, o confronto com aquilo em nós que não é parte da beleza, os nossos próprios demônios.

No caminho da beleza como finalidade única e exclusiva da vida há o pior hedonismo, o narcisismo humano mais destruidor e, consequentemente, o egocentrismo – a própria morte da potencialidade de qualquer ser humano, por meio da negação da realidade. Em verdade, a realidade pessoal não necessariamente é construída pela verdade, como ensina a psiquiatria, por isso a negação da realidade não parece ruim em um primeiro momento, porque evita muitas dores, as dores do enfrentamento, o que exige força.

O caminho da força somente pode ser vivido por meio da insistente busca da verdade em meio à vida, caso contrário não faz sentido desejar encarar a dureza do mundo que nos cerca tantas vezes. Além disso, estamos necessariamente tratando da construção de uma vida boa, ou feliz, ou contente (no sentido do contentamento), e por mais que pareça agradável construir uma vida exclusivamente voltada para o caminho da beleza, quando confrontarmos isso com a realidade toda a beleza não pode suportar a feiura que vive nos dias.

É inevitável – como já definido – trilhar o caminho da força, do enfrentamento pessoal, da realidade cotidiana, do olhar capaz de lançar significado sobre todas as coisas mais comuns do dia a dia, fazendo uma espécie de caminho de meio, nem negar a necessidade do transcendente da vida, isto é, o caminho da beleza, nem deixar de fazer o necessário confronto com a realidade nem sempre tão bela, não à toa a nossa geração tem desejado tanto a beleza, mas sido fraca para construí-la diariamente por meio da força.

Autor

 

JOÃO LOPES

Atualmente estuda Direito, tem interesse pelas artes, filosofia, política e espiritualidade.

publicado em  recortes  por João Lopes.